Vírus Chinês não Muda o Copom
Risco de desaceleração na China devido ao vírus Corona ainda não é suficiente forte para abortar mais um corte na Selic.
Na primeira reunião no ano, o Copom deve encerrar esse breve ciclo de corte de juros iniciado em setembro. A dúvida é se o Banco central encerrará o ciclo fazendo um último corte de juros de 25 bp ou deixará a Selic no atual nível em 4,5%. Segundo uma pesquisa da Reuters, 2/3 dos economistas entrevistados acham que BCB efetuará mais de corte 25 bp nos juros, já a pesquisa do Valor Econômico com 76 instituições, 54 indicam que o BC cortará de novo na quarta-feira (05/02/2020). Além disso, a curva de juros indica um corte de 20 bps em fevereiro e adicionais 6 bps de corte em março. Uma questão a se analisar é se a mudança do cenário internacional com uma eventual desaceleração da China devido aos efeitos do Corona vírus afeta em alguma coisa a politica monetária.
O quadro abaixo ajuda na avaliação do cenário. Os três conjuntos de indicadores (atividade, inflação e finanças) podem ser resumidos em três pontos:
– Atividade econômica retomou o crescimento gradual depois da semi-estagnação do inicio de 2019, mas também não está bombando. Além disso, vemos o varejo um pouco mais acelerado do que a produção industrial, devido ao aumento do crédito da pessoa física e o mercado de trabalho enfim dando uma reagida;
– o aumento da inflação de dezembro, basicamente devido ao aumento da carne bovina, não contaminou as expectativas de inflação, não havendo mudança significativa no cenário da inflação;
– câmbio se desvalorizou mesmo com a queda do risco país, mas não o suficiente para afetar a inflação.
Desvalorização deve ser reação a incertezas sobre os efeitos da epidemia de gripe na economia chinesa.
O balanço de risco continua mostrando ambiente favorável para mais um corte na Selic, pois tanto as expectativas de inflação como as projeções do Copom e do Relatório de inflação para 2020 continuam bem abaixo da meta de 4%. Em termos de atividade econômica, mesmo tendo ocorrido algum fechamento do hiato do produto (queda do desemprego), na minha avalição, ainda há bastante folga no lado da oferta da economia possibilitando um pouco mais de estimulo monetário.
Não se pode desprezar os sinais vindos da economia internacional, mas não há indícios que o surto de gripe seja inflacionário no Brasil e principalmente, ele ainda não é forte o suficiente para alterar a programação da política monetária. Se o banco central já tivesse sinalizado interrupção do ciclo, ele provavelmente não mudaria o curso de ação. Porém, como o mercado enxerga que o plano original era efetuar mais um corte, acredito que a turbulência do câmbio não seja forte o suficiente para interromper prematuramente o ciclo.
(Marcelo Kfoury Muinhos - Agência Estado)