Vacinas não podem ser esquecidas
O fenômeno que leva as pessoas a evitarem o que é bom para elas mesmas está sendo estudado em todo o mundo.
A Organização Mundial da Saúde classifica a hesitação vacinal – termo que pode ser compreendido como medo ou receio de tomar vacinas – como uma das dez maiores ameaças à saúde pública no mundo. Por isso, preocupa tanto a baixa procura dos baianos pelas vacinas, entre elas as contra a gripe, sarampo e bivalente contra a covid-19.
Segundo o Vacinômetro da Secretaria Estadual da Saúde (Sesab), apenas 28% do público-alvo recebeu a dose de reforço com a vacina bivalente, que protege tanto quanto o vírus original da covid, quanto contra a cepa ômicron, responsável pela segunda onda da doença. O dado é das 14h40 de ontem.
A situação não se resume ao combate à covid. As campanhas de imunização contra a influenza (gripe) e o sarampo terminaram e a adesão também foi baixa. Contra a gripe, apenas 26% do público-alvo foi vacinado. Contra o sarampo, a taxa foi de 37%.
A gripe é uma enfermidade causada pelo vírus influenza, que tem imenso poder de mutação e, por isso, a vacinação é anual, para o imunizante inserir a proteção às novas cepas identificadas no mundo. É uma doença especialmente perigosa para crianças e idosos. E é responsável por importante percentual de absenteísmo nos espaços de trabalho ao redor do globo. O sarampo também é uma doença perigosa para os pequenos. Estava erradicada do país e voltou porque as famílias deixaram de imunizar suas crianças. Infelizmente, é possível que a poliomielite (paralisação infantil) siga o mesmo caminho.
A covid é exemplo mais traumático, pois provocou mais de 700 mil mortes no Brasil entre 2020 e 2023. Sim, ainda neste ano - embora casos graves e óbitos tenham diminuído drasticamente – novas infecções ainda existem. Foi a vacinação em massa que garantiu a redução, salvaguardando a saúde da população e permitindo a superação da crise econômica causada pela doença. Infelizmente, a procura pelo novo imunizante (bivalente) está longe do necessário.
Trata-se de uma doença sistêmica e suas consequências ainda não são plenamente conhecidas. Os casos de covid longa – sintomas que perduram após o paciente sair de um quadro de maior gravidade – ainda estão presentes em consultórios, clínicas e hospitais, consumindo recursos públicos e privados. É melhor não se contaminar uma primeira, segunda ou terceira vez, portanto, e, para isso, a melhor estratégia ainda é a vacinação.
O fenômeno que leva as pessoas a evitarem o que é bom para elas mesmas – as vacinas – está sendo estudado em todo o mundo. As avaliações apontam para fatores que incluem dificuldades para pagar o deslocamento até o posto de vacinação; cansaço pandêmico; um falso sentimento de segurança traduzido em frases como “o pior já passou”, “já peguei e não vou pegar de novo” ou “nada acontecerá comigo”; campanhas de desinformação e fake news contra os imunizantes e aversão à ciência.
A boa notícia é que para todos eles existem antídotos: comunicação de risco clara, direta e transparente por parte das autoridades sanitárias; campanhas massivas na mídia e nas redes sociais; liderança politicas responsáveis e comprometidas com a vida, saúde e bem-estar da população; ataque às redes de propagação de fake news, mobilização da sociedade por meio dos agentes comunitários de saúde, busca ativa pelo público-alvo das imunizações nos bairros, locais de trabalho, escolas, estações de transbordo e demais espaços públicos são alguns deles. Mas mesmo tudo isso não será suficiente porque esbarra no indivíduo e na sua necessidade de autoconvencimento de que se vacinar é cuidar de si, e cuidar de si também é cuidar do outro, sendo um ato cidadão e de solidariedade. (Correio)