19/05/2016

Trabalhadores da ativa vão pagar por reforma

Os trabalhadores da ativa vão pagar pela reforma da Previdência.

Ontem, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, ameaçou fazer mais e maiores cortes nos gastos federais caso o governo não consiga aprovar uma reforma que valha também para quem já está no mercado de trabalho. Foi a primeira vez que uma autoridade do novo governo falou claramente em alterar direitos em vigor. Não fazer isso, na avaliação do ministro, seria uma solução ruim para a Previdência, sem resolver os problemas fiscais que estão no centro da crise brasileira.

Com as reformas desejadas pela nova equipe aprovadas, Meirelles disse apostar que a economia possa voltar a crescer já nos próximos trimestres. "Se o regime de Previdência for alterado apenas para quem não entrou no mercado de trabalho, ótimo, muito bom. Por outro lado, isso só vai fazer efeito num prazo muito longo. Para a dívida pública é uma péssima solução", argumentou.

"Se não for isso, temos que discutir quais outras despesas públicas terão de ser cortadas nos próximos anos. Queremos garantir a aposentadoria dos trabalhadores e a solvência do Tesouro Nacional", completou. Ainda assim, Meirelles evitou classificar como "inegociáveis" pontos da proposta em estudo pelo governo e que deve ser apresentada em até 30 dias. Mas reforçou que a colocação de uma idade mínima para a aposentadoria - defendida por ele desde o dia em que assumiu o cargo - é um dos fatores que têm "mais peso" na modelagem que está sendo desenhada.

Consciente da resistência que a reforma terá em diversos segmentos, mesmo com a ampla base de apoio do governo no Congresso Nacional, o ministro tem claro que a comunicação da proposta terá de ser benfeita. "As pessoas dizem que um mês (para a apresentar a proposta) é muito tempo, mas uma reforma da Previdência feita em uma semana seria uma coisa malfeita, que não seria aprovada e nem funcionaria. Trata-se de um trabalho técnico, mas, ao mesmo tempo, político e social. A sociedade tem que ser convencida do que é preciso fazer", acrescentou.

Retomada

Sem prometer um prazo para que o Brasil saia da crise, Meirelles disse esperar que a retomada da atividade econômica ocorra já nos próximos trimestres, mesmo admitindo que as reformas terão impacto maior no mandato do próximo presidente da República. Com apenas seis dias no cargo, ele relatou já ter sido procurado por executivos de multinacionais com interesse em desengavetar planos de investimentos no Brasil. "Recebo relatórios de empresas globais que estão reativando planos de investimentos que estavam arquivados. Isso significa que estão apostando que o país voltará a crescer", alegou.

"Acho prematuro fazer previsões, mas esperamos a retomada de atividade nos próximos trimestres. Não serão necessários anos. Quanto mais rápido as medidas forem adotadas, mais precisas serão essas previsões", avaliou o ministro. Meirelles analisou que o retorno das bases para o crescimento da economia depende, sobretudo, da volta da previsibilidade para os investimentos após um período de retrocessos na confiança do mercado na estabilidade de regras no país.

O maior trunfo, na opinião do ministro, é a manutenção do mercado de consumo. "O desemprego aumentou, mas número de empregados hoje é maior do que era há 15 anos. A classe média cresceu e está aí, apesar do sofrimento dos últimos tempos", afirmou. Para alavancar rapidamente os investimentos, Meirelles considerou, ainda, que o governo tem condições de reverter o que chamou de "outros retrocessos da economia nos últimos anos", como o aumento do intervencionismo estatal e a incerteza inflacionária.

(Correio Braziliense)

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