05/05/2016

Títulos públicos e juros garantem rentabilidade

Os fundos de renda fixa brindaram os investidores em 2015

Os fundos de renda fixa brindaram os investidores em 2015 e no primeiro trimestre de 2016 com uma boa rentabilidade, apoiada no avanço da inflação e das taxas de juros. Em suas diversas modalidades - relativas à duração e à composição das carteiras - estes fundos renderam entre 12% e 15% em média, acumulados em doze meses encerrados em março.

Maior carteira do setor, concentrando praticamente a metade do patrimônio líquido superior a R$ 3 trilhões da indústria de fundos brasileira, os fundos de renda fixa ganharam principalmente com a valorização dos títulos públicos atrelados à variação do índice oficial de inflação, o IPCA. Também se destacaram aqueles que acompanharam a flutuação da taxa de juros (DI) de duração baixa, relata Carlos André, diretor executivo da BBDTVM. Ligada ao Banco do Brasil, a distribuidora é a líder do setor com quase R$ 600 bilhões, ou 43% do patrimônio total dos fundos de renda fixa no país, que superava R$ 1,4 trilhão no fim de março.

Para aproveitar da melhor maneira possível o contexto favorável e a marcação a mercado, a opção dos gestores, no primeiro semestre de 2015, foi por papéis com duração mais longa, atrelados ao IPCA, uma aposta de que a convergência dos índices de inflação à meta oficial seria demorada.

O que poderia dar errado nessa estratégia seria uma alta dos juros nos Estados Unidos, que obrigaria o Banco Central brasileiro a acompanhar e, nesse caso, a marcação a mercado - em que o valor dos papéis que compõem as carteiras é atualizado diariamente pela diferença entre os juros atuais e os prefixados de emissão - prejudicaria os fundos de renda fixa. Mas não foi o que ocorreu e mais recentemente a possibilidade de alta dos juros americanos foi adiada.

Mais para o fim do ano, a situação se inverteu. Segundo Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos de investimentos da Santander Asset Management, com a piora no cenário político e econômico interno, os investidores ficaram mais conservadores. Isso obrigou os gestores a deixar as classes de fundos mais arrojados (os de livre e alta duração, pela classificação da Anbima) e aumentar as apostas na baixa duração.

Segundo a Anbima, a baixa duração refere-se a fundos que buscam retornos investindo em ativos de renda fixa com "duration" média ponderada da carteira inferior a 21 dias úteis, minimizando a oscilação nos retornos promovida por alterações nas taxas de juros futuros. "Há interesse dos investidores hoje por fundos que possam se beneficiar da queda da taxa de juros", diz Castro.

No processo de redirecionamento das estratégias no ano passado, os fundos de renda fixa enfrentaram uma dura competição pelos recursos dos investidores com ativos equivalentes, porém isentos de tributação. Com esse perfil, as letras de crédito imobiliário e agropecuário (LCI e LCA) foram os maiores concorrentes já que a caderneta de poupança - que também é isenta - perdeu da inflação, recorda Bernardo Schneider, diretor da Icatu Vanguarda, que administra R$ 12 bilhões em Renda Fixa.

Mas isso também mudou. Com a queda da atividade econômica, os bancos não têm mais tanto lastro (projetos imobiliários e de agronegócio) para emissão de letras. "As LCI e LCAs estão vencendo e os investidores não estão conseguindo as mesmas taxas", define Schneider.

O resultado é que, no primeiro trimestre de 2016, com a inflação mostrando algum retrocesso, permitindo estimar uma redução dos juros, o interesse do investidor mudou e ele passou a buscar a oportunidade de aplicar para aproveitar os juros altos antes que caiam, carreando mais aplicações para estes fundos", diz Schneider.

"Ainda há de certa forma uma postura de cautela por parte dos investidores", disse Carlos André, da BBDTVM. Assim, o fluxo de investimentos tende a se centrar em fundos mais conservadores, DI e curto prazo, e aqueles que buscam índices com duration mais curta. André relatou que, nesse contexto, a estratégia básica da BBDTVM é não abrir posições com grau de exposição alto. "Pelo grau de incerteza (do cenário macroeconômico) adotamos estratégias que protejam o capital do cliente, procurando posições mais defensivas".

"Do ponto de vista do investidor, o fundo de renda fixa é um porto seguro" define Sandra Blanco, consultora de investimentos da Órama. Mais adequado a uma aplicação de giro, de curto prazo, serve, segundo ela, para quem não quer deixar o dinheiro parado e não quer perder na caderneta de poupança. Sandra destaca que, com a perspectiva de mudança de governo e queda da inflação e dos juros, tem havido uma procura maior pela categoria "alta, grau de investimento" na definição da Anbima que quer dizer alta duração e papéis de baixo risco de crédito.

Fundos de duração alta são os que buscam retorno investindo em ativos de renda fixa com "duration" média ponderada da carteira igual ou superior à apurada na carteira teórica de títulos referencial(IMA-GERAL).

Mas nesse caso, alerta a consultora da Órama, "a taxa de administração é decisiva e não pode ultrapassar 1% ao ano para ser vantajosa para o investidor". Ela lembra que em termos de tributação, o fundo de renda fixa é equivalente a outros ativos da mesma classe.  

(Janes Rocha - Valor Online)

 

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