11/02/2016

Salários: Aumento real fica mais difícil com inflação

Disparada da inflação torna mais difícil para o trabalhador conseguir aumento real de salário

No ano passado, os reajustes só superaram os preços em 0,16%, na média, diz Fipe
A disparada da inflação corroeu os ganhos salariais da maioria das categorias no ano passado. Segundo o "Salariômetro", estudo elaborado desde 2007 pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), na média geral, os trabalhadores tiveram aumento de apenas 0,16% acima da inflação em 2015.

O número só ficou positivo porque, no início do ano, muitas categorias ainda conseguiram reajustes reais. Mas a inflação de dois dígitos do segundo semestre fez com que os aumentos concedidos em dezembro ficassem quase um ponto percentual abaixo do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), usado nas negociações trabalhistas.
No mês passado, a mediana dos reajustes ficou em 10%. Com o INPC acumulado em doze meses até novembro de 10,97%, a perda real das categorias ficou em 0,97%. Os resultados são compilados a partir da base de dados de acordos e convenções do Ministério do Trabalho.

Segundo Hélio Zylberstajn, professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do "Salariômetro", o resultado decorre da combinação entre a piora do quadro recessivo no país e a inflação. Em janeiro passado, quando as expectativas para a economia eram menos pessimistas e o INPC acumulado nos doze meses anteriores era de 6,2%, os trabalhadores ainda conseguiram, reajuste real de 1,3%. Ou seja, conseguiram compensar a inflação do período e ainda ter ganhos.

Mas a situação se deteriorou gradativamente ao longo do ano, e, no segundo semestre, as negociações ficaram mais apertadas. Junho foi o último mês de reajustes reais acima de zero. Nos meses seguintes, os aumentos empataram com o índice de preços e passaram para o terreno negativo em novembro.

A recessão força as empresas a controlarem seus custos. Elas vão para a mesa de negociação com uma posição bem menos generosa - avalia Zylberstajn.

O quadro difícil fez ainda com que 244 empresas reduzissem salários. O número é pequeno diante das cerca de 24 mil negociações salariais realizadas no ano passado, mas representa um salto ante o resultado de 2014, quando só quatro empresas fizeram acordo com os funcionários para cortar salários e jornada de trabalho, na mesma proporção.

Minha percepção é que os aumentos reais vão continuar raros, apesar da inflação mais baixa, por causa da recessão - analisa o professor da USP.  

(MARCELLO CORRÊA - O Globo)

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