26/10/2016

Recuperação de renda para consumo desafia inflação

Renda ampliada disponível para consumo e pagamento de dívidas ficou praticamente estável no bimestre julho-agosto

A renda ampliada disponível para consumo e pagamento de dívidas (massa salarial, mais previdência, seguro-desemprego e abono salarial) ficou praticamente estável no bimestre julho-agosto em relação ao mesmo período do ano passado e subiu 1,7% em relação aos dois meses anteriores (maio e junho), já descontada a inflação. Essa recuperação temporária do poder de compra das famílias ocorreu justamente nos meses deste ano em que os indicadores calculados pelo BC identificaram uma acomodação do movimento de queda da inflação de serviços.

A renda ampliada disponível para consumo somou R$ 223,7 bilhões na média de julho e agosto, valor 0,2% inferior aos R$ 224,1 bilhões de igual meses do ano passado, em valores já corrigidos pelo IPCA. Em maio e junho deste ano, essa renda somou R$ 220 bilhões, também considerando dados corrigidos pelo IPCA. A renda total disponível melhorou porque a massa salarial deu sinais de estabilidade subiu 0,5% em relação aos meses de maio e junho e reduziu o ritmo de queda em relação ao ano passado) e por causa do calendário de pagamentos da Previdência, tanto aos aposentados como de outros benefícios.

Neste ano, os meses de julho e agosto concentraram mais pagamentos que em iguais meses do ano passado. O governo já pagou as primeiras parcelas do abono salarial (em julho e agosto) e parte dos aposentados já recebeu metade do 13º salário (agosto). No ano passado, esses dois pagamentos não foram feitos nessa época. A massa salarial real, medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (a Pnad Contínua), chegou a cair 4,9% no trimestre abril-junho deste ano em relação a igual período do ano passado, retração que diminuiu para 3% no trimestre junho-agosto. Além disso, a massa salarial do trimestre encerrado em agosto foi 0,4% maior que o encerrado em julho, quando já havia ficado estável em relação aos três meses anteriores.

O aumento de servidores públicos e as campanhas salariais que têm reposto a inflação passada ajudam a explicar esse comportamento da massa salarial. O INPC, que reajusta os salários, está mais "gordo" que o IPCA. Em 12 meses até setembro, o INPC soma 9,15% ante 8,47% do IPCA. Nos pagamentos da Previdência, o aumento do salário mínimo no início do ano, a aceleração nos pedidos de aposentadoria (pela preocupação com a reforma) e a volta da normalidade ao calendário de pagamentos explicam o aumento da renda proveniente desses benefícios. Parte do aumento da renda total no período julho-agosto foi sazonal e parte (13º dos aposentados) continuou presente em setembro.

Para o futuro da política monetária, contudo, o que conta é saber se os dados de massa salarial podem ser um sinal de que o ajuste no mercado de trabalho foi menos intenso que o esperado para fazer a inflação de serviços recuar com mais intensidade. Os próximos meses responderão a essa pergunta, mas o Salariometro, indicador desenvolvido pela Fipe com base nos acordos e convenções coletivas, mostra que a mediana dos ajustes salariais com vigência em setembro de /2016 foi igual à inflação acumulada nos 12 meses até agosto, ainda que 45,6% dos acordos tenha ficado abaixo da inflação medida pelo INPC. 

(Denise Neumann - Valor Online)

Para melhorar a sua experiência utilizamos cookies essenciais e de acordo com a nossa Política de Privacidade, ao continuar navegando, você declara que concorda com estas condições.