22/03/2016

Recessão pode ser a mais longa da História

A recessão brasileira pode ser a mais longa e a mais intensa da História do país

Segundo projeções divulgadas ontem pela Fundação Getulio Vargas ( FGV), o Produto Interno Bruto ( PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) deve encolher em todos os trimestres de 2016, na comparação com o ano passado. Se a previsão estiver correta, será uma sequência de 11 quedas trimestrais consecutivas, tão longa quanto a registrada entre 1989 e 1992. A incógnita é 2017: se o primeiro trimestre do ano que vem também for de retração, esta será a crise mais duradoura já registrada.

Nas contas da economista Silvia Matos, do Instituto Brasileiro de Economia ( Ibre/ FGV), a atividade econômica acumulará queda de 9%, no período entre o segundo trimestre de 2014 e o último de 2016. Será o pior ciclo da História, considerando a intensidade do tombo. A dúvida é se será também o mais longo período recessivo. Já há sinais de que o primeiro trimestre de 2017 será negativo, mas ainda há incertezas sobre essa previsão, destaca Silvia.
- Podemos chegar, eventualmente, a ter recessão até durante todo o ano de 2017. A recessão atual já é a mais intensa. Há risco de ser também a mais longa - explica a analista.

O cálculo da FGV considera uma queda de 3,4% do PIB em 2016, projeção considerada otimista diante dos dados mais recentes do mercado financeiro. O boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, projeta retração de 3,6% neste ano - maior que a esperada na pesquisa da semana anterior, de 3,54%. Foi a nona semana seguida de piora nas expectativas.

Para o ano que vem, no entanto, a previsão da FGV é mais pessimista que a mediana do mercado: queda de 0,4%, contra expansão de 0,44% indicada no Focus. A pesquisa do BC prevê ainda inflação de 7,43%. A projeção caiu pela segunda semana seguida. Mas a Taxa Selic deve permanecer em 14,25% ao ano, esperam os economistas.

Já o cenário político, com o aumento da pressão pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff, parece ter se refletido nas previsões para a cotação do dólar. O Focus reduziu em R$ 0,05 a cotação esperada para a divisa no fim deste ano: R$ 4,20. Foi a quinta diminuição seguida. Para 2017, os analistas reduziram pela segunda vez seguida a cotação, passando de R$ 4,34 para R$ 4,30. CRISE FISCAL PREOCUPA A instabilidade em Brasília ainda não entrou nas contas da FGV. A entidade trabalha com um cenário de manutenção do governo, com alguma capacidade de governabilidade. Com isso, as projeções da fundação não preveem, por exemplo, alta nem queda abrupta do risco- país - que tem efeito sobre câmbio e cenário fiscal.

A possibilidade de choques provocados por mudanças políticas, porém, já é considerada pelos economistas. Aloisio Campelo, superintendente adjunto de ciclos econômicos do Ibre/ FGV, responsável pelas sondagens empresariais, prevê impacto nos indicadores de confiança: - Quando se percebe a possibilidade de alguma ação, a confiança avança. Isso ocorreu no impeachment do Collor. Mas depois voltou a cair, e só subiu em 1994.

Já Braulio Borges, economista- chefe da LCA Consultores, trabalha com probabilidade de mais de 90% de impeachment da presidente Dilma. Para estimar o impacto de uma mudança de governo na economia, ele tenta extrapolar a reação positiva do mercado financeiro às notícias desfavoráveis ao Planalto da última semana.
- Essa "lua de mel", um benefício da dúvida dado a um eventual novo governo, poderia significar um crescimento do PIB ( em 2017) de 1 a 1,5 ponto percentual acima do que o que se prevê atualmente - afirma Borges, que destaca que são necessários ajustes mais duradouros.

Para Armando Castelar, da FGV, a saída da crise passa pela solução do quadro fiscal. O economista, no entanto, teme que pouco seja feito para solucionar o problema nos próximos anos: - Não existe a sensibilidade social de que há um problema. O pessoal não foi para a rua pedir reforma da Previdência.

O mercado financeiro, por sua vez, viveu um dia de trégua no clima de euforia. Depois de três quedas consecutivas, o dólar comercial fechou em alta de 0,75%, a R$ 3,61. A cotação da moeda americana sofreu influência da ação do Banco Central, que vendeu contratos de swap cambial reverso, que funciona como uma compra de dólar no mercado futuro e ajuda a puxar o câmbio para cima. Já a Bolsa de Valores de São Paulo ( Bovespa) teve valorização de 0,70%, aos 51.171 pontos.  

(MARCELLO CORRÊA - O Globo)

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