10/05/2016

Quando plano de saúde vira artigo de luxo

Com a alta do desemprego, entre março de 2015 e março deste ano,

1,37 milhão de brasileiros tiveram de abrir mão do benefício

Para muitos brasileiros, já não basta cortar gastos supérfluos para driblar a crise. A alta do desemprego tem forçado muitas pessoas a abrir mão do plano de saúde e a engrossar a fila do SUS. Os planos individuais, além de caros, são cada vez mais raros.

Entre março de 2015 e março deste ano, aproximadamente 1,37 milhão de brasileiros tiveram de abrir mão de seus planos de saúde, sendo 617 mil somente no primeiro trimestre deste ano. Menos de 49 milhões de brasileiros — ou seja, menos de um quarto da população –, têm o benefício atualmente. Os dados estão disponíveis no portal da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), a Sala da Situação.

Para entender como a crise na saúde suplementar se relaciona com a recessão econômica e como as operadoras podem combater custos médico-hospitalares fora de controle, o Opinião e Notícia conversou esta semana, por email, com dois dos sócios da corretora TBI Seguros, Bruno Autran e Paulo Campos.

O sumiço dos planos individuais

Nos últimos anos, muitas operadoras deixaram de oferecer planos individuais, alegando que eles se tornaram uma fonte de prejuízo. Ao contrário dos planos coletivos por adesão ou empresariais, que têm seu valor negociado anualmente entre operadoras e empresas ou associação contratante, o reajuste dos planos individuais é controlado pelo governo. Isso significa que esses contratos não podem ser reajustados levando em conta a sinistralidade, ou seja, os gastos de seus participantes. O reajuste desses planos segue o índice da inflação, medido pelo IPCA, ou o percentual autorizado anualmente pela ANS.

Autran e Campos explicam que, historicamente, o reajuste autorizado pela ANS fica abaixo da chamada “inflação médica”: valor que combina a frequência de uso e o preço médio dos serviços e equipamentos de saúde. Nas últimas décadas, graças ao envelhecimento da população, à incorporação de novas tecnologias e ao desperdício (pedidos de exames supérfluos), a inflação médica subiu a um ritmo mais acelerado que o índice de preços e do que o PIB. Segundo a Confederação Nacional de Saúde, a inflação médica deve atingir alta de 20% em 2016. Nos últimos 12 meses até abril, a inflação medida pelo IPCA ficou em 9,34%.

Para compensar a limitação no reajuste, as poucas operadoras que ainda oferecem planos individuais vendem contratos com valores iniciais altíssimos.

Internações demais, prevenção de menos

Os sócios da TBI Seguros apontam o custo elevado de internações hospitalares como a principal fonte de prejuízo para as operadoras e seus contratantes. No que se refere aos planos coletivos empresariais – que equivalem a 66,6% dos convênios no país –, eles acreditam que boa parte dos gastos com internações poderiam ser evitados se as empresas investissem mais em medicina preventiva e no monitoramento do perfil de saúde de seus funcionários.

“Grande parte das intercorrências graves, como acidente vascular encefálico, infarto agudo do miocárdio, colocação de stent etc. são decorrentes de patologias crônicas assintomáticas como diabetes, hipertensão e dislipidemia. Doenças que poderiam ter sido diagnosticadas precocemente através de check-ups básicos”, dizem.

Medidas simples, como o estímulo à prática de exercícios físicos regulares e a uma alimentação saudável, geralmente não são levadas a sério pelas empresas, segundo os corretores, embora elas sejam uma forma eficaz de evitar tratamentos invasivos e prolongados, reduzindo em até 30% os gastos assistenciais.

“Ações efetivas sobre a economicidade das apólices tem resultado a médio/longo prazo, o que acaba desmotivando o gestor, porém, é preciso mudar essa cultura, para que possamos ter um sistema de saúde suplementar mais sustentável”.

(Joana Duarte -Jornal de Floripa)

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