11/12/2015

Procura por previdência privada cresce com incertezas

Arrecadação dos planos de previdência privada chegou a 75% do total

Apesar dos resultados negativos apresentados no mercado de trabalho e no consumo das famílias, até agosto deste ano a arrecadação dos planos de previdência privada chegou a 75% do total apresentado nos últimos 12 meses, o que faz com que as estimativas apontem crescimento entre 15% e 18% em 2015, segundo dados da Federação das Empresas de Previdência Privada (Fenaprevi). No período, o setor cresceu 20,8% em ativos geridos, chegando a R$499,3 bilhões. Além disso, o total de clientes cresceu 6%. 

"Apesar da crise econômica, a previdência privada (especialmente a aberta) teve mais um ano de crescimento muito forte. Quando estabelecemos um índice anual de crescimento da previdência aberta no Brasil desde 2004, o percentual fica acima de 20%",conta Felipe Bottino,superintendente de produtos de previdência da Icatu Seguros. Até outubro deste ano, a previdência renda fixa acumulou 12,43% de rentabilidade em 12 meses. No período, o IPCA acumulado no ano era de 8,52%, e o resultado em 12 meses, 9,93%. 

O especialista também explica que os bancos ainda são os principais fornecedores desses produtos. Segundo ele, a capilaridade das instituições junto ao cliente os favorece, assim como a possibilidade de oferecer outros benefícios. "O grande motor do crescimento da indústria tem sido o VGBL, que é o produto mais indicado para clientes que fazem a declaração simplificada, não declaram ou clientes que fazem a completa mas já excederem os 12% de dedução fiscal", afirma Bottino. 

Segundo Fernanda Pasquarelli, superintendente de Vida, Previdência e Investimentos da Porto Seguro, estão entre as razões para esse crescimento a conscientização de parte da população de que a expectativa de vida do brasileiro tem crescido -75,9 anos em 2014 ante 74,9 em 2013-e o fato de muitas famílias diminuírem, ou seja, menos familiares para dar o suporte financeiro no futuro. "Com base nisso, haverá cada vez menos dependência de filhos e a necessidade de investir no futuro por si próprio e de se planejar", explica. 

Atualmente, 12,2 milhões de pessoas possuem um plano de previdência privada no país. Do total, 9 milhões contrataram planos individuais e 3 milhões estão inseridos em planos empresariais, segundo a Fenaprevi. Outra razão para o crescimento do setor é a preocupação com a inflação, que aumenta o custo de vida e faz com que as pessoas pensem em como manterão este mesmo nível de vida no futuro. 

Como a Previdência Social tem enfrentado problemas de financiamento, se mostrando insuficiente para garantir uma boa qualidade de vida aos seus beneficiários, as pessoas buscam a previdência privada. Por exemplo, para reduzir o déficit nas contas públicas e dar sustentabilidade ao sistema, o governo mudou a regra da aposentadoria (leia mais na página 6). A nova fórmula usa como medida um total de pontos formados a partir da soma da idade do interessado em se aposentar e do tempo em que ele contribuiu para o regime geral previdenciário. 

"Como todos os demais, o segmento de previdência privada sofre os impactos das condições econômicas, mas de forma menos intensa, pois se trata de uma necessidade de todos. As pessoas têm hoje muito claro que a previdência oficial não vai cumprir o mesmo papel que cumpriu coma geração de nossos pais. Certamente não teremos os mesmos benefícios para atender nossas necessidades futuras. É um fenômeno mundial, não apenas brasileiro (veja na página 6)" explica Jair de Almeida Lacerda Junior, diretor-geral interino da Bradesco Vida e Previdência. 

Para o executivo, os principais pontos que permanecerão sendo muito considerados pelo setor serão redução das taxas de administração e carregamento, gestão especializada e opções de diversificação de investimento. "Nesse contexto a tendência é de eliminação por completo das taxas de carregamento de entrada e uma redução considerável nas taxas de carregamento de saída. Além disso, os benefícios dessa diferenciação (de investimento) estão comprovados, os fundos de previdência de gestores independentes obtiveram retorno médio anual 25% superior ao dos fundos geridos por grandes bancos", diz Jair de Almeida. 

Poupamos pouco e mal 

O brasileiro sempre teve o hábito de colocar o dinheiro que conseguia guardar nas cadernetas de poupança, porém o perfil médio da população não costuma poupar. Muitas vezes, não guarda nada. Um levantamento divulgado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em 2014 mostra que 57% dos brasileiros não têm o hábito de pensar na aposentadoria. 

"Na verdade, os altos índices de depósitos de poupança registrados no passado não refletiam propriamente uma tendência da população a poupar, mas sim a utilização das cadernetas de poupança como instrumento de defesa da classe média contra os efeitos da forte inflação vivida pelo País no período. Após 1994, com a estabilização da economia proporcionada pelo Plano Real, esse quadro mudou, e foi exatamente quando a previdência privada começou a ganhar terreno no Brasil", conta o executivo da Bradesco Vida e Previdência. 

Já a outra parcela (43%) que afirma se preocupar em ter uma renda adicional no futuro, 25% aplica o dinheiro na poupança e outros investimentos, 14% na previdência privada e 4% em imóveis. 

Para Fernanda Pasquarelli, o brasileiro ainda está aprendendo a lidar com os planos de previdência, que são uma escolha com propósito de longo prazo. "O desafio está em mostrar que a Previdência Complementar, apesar de visar o futuro, tem grande influência no que acontece no presente. O planejamento é essencial para que alcancemos nossos projetos de vida", diz. 

Apesar dos retornos decepcionantes, a caderneta de poupança segue como principal veículo de poupança do investidor brasileiro, afirma Felipe Bottino. Ele diz que, apesar disso, grande parte dos recursos captados pelo setor em 2015 vem justamente desse tipo de investimento. "O grande desafio do setor e seu real problema são a falta de informação e a baixa educação financeira da população brasileira. A previdência não é um produto de venda simples e impulsiva. O investidor deve tomar uma série de decisões pouco triviais", complementa. 

Desconto no IR e retenção de talentos animam pequenas e médias empresas 

Visando reter talentos, aumentar a dedução do Imposto de Renda e complementar os valores já depositados por meio do pagamento dos tributos previdenciários, as empresas tem cada vez mais aderido ao mercado de previdência privada.

Atualmente, um em cada quatro planos é corporativo, enquanto 3 milhões de brasileiros têm seu plano previdenciário ligado ao seu empregador. 

Segundo Jair de Almeida Lacerda Junior, diretor-geral interino da Bradesco Vida e Previdência, o segmento das grandes empresas na previdência empresarial já é forte desde a década de 1970 devido à implantação dos fundos de pensão fechados das empresas estatais. "Hoje, o mercado de previdência complementar empresarial corporate, considerando os segmentos fechado e aberto, é maior do que o segmento individual, mas a tendência é que essa situação se inverta nos próximos três ou quatro anos", explica, ressaltando que essa mudança poderá ocorrer por causa da velocidade de crescimento da previdência individual. 

Sobre as pequenas e médias empresas, Jair de Almeida afirma que essas companhias ainda não aderiram tão fortemente à previdência complementar. "Basicamente por duas razões: a primeira é a situação econômica de relativa instabilidade nos últimos anos, que acaba levando as empresas a conter seus investimentos em benefícios; a segunda é que a maioria dessas empresas adota o regime de tributação do lucro presumido, que não oferece a vantagem de abater a previdência como despesa no Imposto de Renda", afirma Jair de Almeida. 

O executivo diz que, dada a importância da questão, o tema já tem sido discutido com o governo. "Com a falta de estímulo fiscal, o mercado empresarial não avança nesse segmento. Se o segmento de pequenas e médias empresas passar a contar com condições tão favoráveis como as que impulsionam o crescimento da previdência individual, daremos um grande passo para consolidar ainda mais a cultura da previdência privada no Brasil." 

De acordo com Sérgio Prates, Diretor Regional da Icatu Seguros, a melhor opção para um pequeno ou médio empresário é um plano aberto instituído, pois nesse modelo a empresa pode escolher por fazer as contribuições em nome dos funcionários por meio de uma seguradora. "Ele realiza um contrato com ela, onde determina algumas regras, como o custeio do plano, ou seja, qual o valor da contribuição mensal e se vai haver contribuição do empregado", afirma. 

As condições de planos empresariais acabam sendo melhores para os funcionários. Sérgio Prates também detalha que a empresa é a responsável por escolher quando os empregados terão acesso aos recursos depositados por ela empresa. "Formando assim um relacionamento de mais longo prazo, aumentando a fidelização", diz. 

Sobre a redução tributária, as contribuições feitas pela empresa podem ser abatidas como despesa operacional no Imposto de Renda, desde que a companhia esteja no regime de Lucro Real e o total deduzido esteja limitado a 20% da folha dos empregados ligados ao plano de previdência privada. 

Fernanda Pasquarelli, superintendente de Vida, Previdência e Investimentos da Porto Seguro, complementa que é sempre necessário procurar um corretor especializado para tratar do tema. "Além disso, é bom lembrar que os recursos acumulados no plano de previdência não integram inventário no caso de falecimento do titular, o que garante liquidez imediata para os herdeiros." 

Vale a pena começar cedo 

A idade de início de contribuição para um plano de previdência privada é um ponto importante a ser considerado na hora de traçar os objetivos que pretendem ser alcançados com o produto contratado, independentemente do tipo (PGBL ou VGBL, veja mais na página 4) que será escolhido. "O ideal é que quando a pessoa entre no mercado de trabalho, ou seja, já tenha condição de poupar, ele contrate um plano de previdência", afirma Fernanda Pasquarelli, superintendente de Vida, Previdência e Investimentos da Porto Seguro. 

"É importante avaliar corretamente o valor da contribuição que se pretende efetuar: deve ser o máximo possível para assegurar tranquilidade no futuro, mas sem afetar a capacidade de fazer frente às despesas de curto e médio prazos, do contrário a tendência é que a pessoa não consiga manter os desembolsos programados por todo o período", complementa Jair de Almeida Lacerda Junior, diretor-geral interino da Bradesco Vida e Previdência. 

Além disso, a pessoa interessada deve analisar as taxas de carregamento e administração que são cobradas, a rentabilidade dos fundos e a solidez da empresa que administra o plano. 

Esses fatores são definidos conforme o perfil do investidor, com base em sua tolerância aos riscos do negócio, sua visão geral do seu portfólio de investimentos, o prazo de aplicação, os valores dos depósitos mensais e o montante a ser acumulado. "Os planos de previdência privada estão bastante acessíveis hoje em dia, com os clientes podendo começar a planejar a sua aposentadoria a partir de R$100 mensais", explica Bruno Hoffmann, gerente regional da Icatu Seguros. 

Disciplina para investir 

Também deve ser levado em consideração que esses produtos não são voltados apenas para aposentadoria. É importante estar ciente de que previdência envolve planejamento de longo prazo. A possibilidade de uso do dinheiro vai além de complementar a renda na aposentadoria, pode ser o valor necessário para começar um negócio ou praticar um hobby. Não é aconselhável, portanto, comparar planos de previdência diretamente com outras opções de investimento no mercado, pois são conceitos e objetivos distintos, afirma Jair de Almeida. 

Algumas pessoas usam o modelo dos planos de previdência privada para fazer seu planejamento financeiro para pagar gastos com seus estudos ou de seus filhos. Quando o plano é voltado aos dependentes, a modalidade é conhecida como planos para menores pelo mercado. "Esta é uma forma de já ter um plano desde o nascimento da criança", ressalta Fernanda Pasquarelli. 

Idade não é tudo 

Apesar de começar a poupar cedo facilitar o acúmulo de um montante que conceda conforto no futuro, pessoas com um pouco mais de idade também podem aplicar na previdência privada. "Não há uma idade máxima para começar um plano de previdência, pois as aplicações são diversas. Temos clientes já de idade avançada que começaram agora a aplicar em previdência, pois seu foco é o planejamento sucessório", conta Bruno Hoffmann. 

Porém, o interessado que se encaixa nesse perfil precisa ter em mente que seu esforço financeiro deve ser maior para atingir a reserva desejada. "O que vale destacar é que este é um produto de longo prazo. Se a pessoa pretende ter o plano, por exemplo, por apenas um ano, as taxas do plano e o modelo de tributação podem ser menos atrativas", diz Fernanda Pasquarelli. 

Por fim, Jair de Almeida, ressalta que, no caso da previdência complementar, o desafio é reduzir a idade de ingresso nos planos, pois quanto maior o prazo de contribuição, menor será o valor exigido para alcançar a meta pretendida. "Mas já se percebe um avanço da educação financeira, que leva a uma maior conscientização da importância de investir no presente para garantir um futuro com mais conforto e tranquilidade." 

A possibilidade de uso do dinheiro vai além de complementar a renda na aposentadoria, pode ser o valor necessário para começar um negócio ou praticar um hobby 

Desconto no IR e retenção de talentos animam pequenas e médias empresas 

Visando reter talentos, aumentar a dedução do Imposto de Renda e complementar os valores já depositados por meio do pagamento dos tributos previdenciários, as empresas tem cada vez mais aderido ao mercado de previdência privada.

Atualmente, um em cada quatro planos é corporativo, enquanto 3 milhões de brasileiros têm seu plano previdenciário ligado ao seu empregador. 

Segundo Jair de Almeida Lacerda Junior, diretor-geral interino da Bradesco Vida e Previdência, o segmento das grandes empresas na previdência empresarial já é forte desde a década de 1970 devido à implantação dos fundos de pensão fechados das empresas estatais. "Hoje, o mercado de previdência complementar empresarial corporate, considerando os segmentos fechado e aberto, é maior do que o segmento individual, mas a tendência é que essa situação se inverta nos próximos três ou quatro anos", explica, ressaltando que essa mudança poderá ocorrer por causa da velocidade de crescimento da previdência individual. 

Sobre as pequenas e médias empresas, Jair de Almeida afirma que essas companhias ainda não aderiram tão fortemente à previdência complementar. "Basicamente por duas razões: a primeira é a situação econômica de relativa instabilidade nos últimos anos, que acaba levando as empresas a conter seus investimentos em benefícios; a segunda é que a maioria dessas empresas adota o regime de tributação do lucro presumido, que não oferece a vantagem de abater a previdência como despesa no Imposto de Renda", afirma Jair de Almeida. 

O executivo diz que, dada a importância da questão, o tema já tem sido discutido com o governo. "Com a falta de estímulo fiscal, o mercado empresarial não avança nesse segmento. Se o segmento de pequenas e médias empresas passar a contar com condições tão favoráveis como as que impulsionam o crescimento da previdência individual, daremos um grande passo para consolidar ainda mais a cultura da previdência privada no Brasil." 

De acordo com Sérgio Prates, Diretor Regional da Icatu Seguros, a melhor opção para um pequeno ou médio empresário é um plano aberto instituído, pois nesse modelo a empresa pode escolher por fazer as contribuições em nome dos funcionários por meio de uma seguradora. "Ele realiza um contrato com ela, onde determina algumas regras, como o custeio do plano, ou seja, qual o valor da contribuição mensal e se vai haver contribuição do empregado", afirma. 

As condições de planos empresariais acabam sendo melhores para os funcionários. Sérgio Prates também detalha que a empresa é a responsável por escolher quando os empregados terão acesso aos recursos depositados por ela empresa. "Formando assim um relacionamento de mais longo prazo, aumentando a fidelização", diz. 

Sobre a redução tributária, as contribuições feitas pela empresa podem ser abatidas como despesa operacional no Imposto de Renda, desde que a companhia esteja no regime de Lucro Real e o total deduzido esteja limitado a 20% da folha dos empregados ligados ao plano de previdência privada. 

Fernanda Pasquarelli, superintendente de Vida, Previdência e Investimentos da Porto Seguro, complementa que é sempre necessário procurar um corretor especializado para tratar do tema. "Além disso, é bom lembrar que os recursos acumulados no plano de previdência não integram inventário no caso de falecimento do titular, o que garante liquidez imediata para os herdeiros." 

(O Estado de S.Paulo)

Para melhorar a sua experiência utilizamos cookies essenciais e de acordo com a nossa Política de Privacidade, ao continuar navegando, você declara que concorda com estas condições.