05/07/2016

Previdência avança entre milionários

Os mais ricos optarem fortemente pela previdência como investimento de longo prazo.

A facilidade no planejamento sucessório com benefício tributário e a possibilidade de definição dos beneficiários têm feito os mais ricos optarem fortemente pela previdência como investimento de longo prazo. Enquanto a indústria total de private banking cresceu 10,5% - praticamente a reposição média da Selic -, em 2015, e 3,9% no primeiro trimestre deste ano, a previdência sozinha avançou 27,7% e 5,2%, respectivamente, entre os milionários.

Em uma linha histórica, desde 2010, o patrimônio líquido (PL) da previdência dentro da carteira private avançou mais de 400%. O produto tem, dizem os gestores, características quase imbatíveis quando se fala em prazos superiores a dez anos, quando a alíquota de Imposto de Renda na tabela regressiva cai ao piso de 10%. "A previdência chegou um pouco tarde no private, mas ganhou uma relevância enorme de cinco anos para cá", avalia Flávio Augusto Aguiar de Souza, vice-presidente da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).

Há três anos, a previdência representava 5% do total dos investimentos. Hoje está em 9%. "Até o final do ano, certamente irá para 10%", arrisca Souza. A razão é que além de figurar como um instrumento de planejamento sucessório com liquidez de 30 dias, o investidor se livra do inventário e toda morosidade e adversidade que a família na maioria das vezes enfrenta nessa ocasião. "No caso do Itaú, chegamos a liberar o recurso da previdência, em média, em 48 horas, pois entendemos o momento delicado pelo qual passa a família", diz Luiz Severiano, diretor do Itaú Private Bank, dono da maior carteira em PL do país. Pouco mais de R$ 200 bilhões no private.

O Itaú se diz pioneiro no uso dos planos de previdência como instrumento de sucessão. "O produto previdência dentro do private do Itaú cresceu 35% nos últimos 12 meses", diz Severiano. Como uma forma de aproveitar os ganhos dos juros altos para o investidor, o executivo montou em 2014 um fundo de previdência que só comprava NTN-Bs e que pagavam, em média, IPCA mais 6%, o que considera uma ótima remuneração.

Foram captados R$ 300 milhões de 300 investidores em três meses. "A performance do fundo este ano, como a inflação está alta, está em 9% acima do CDI". Severiano administra cinco fundos de previdência compostos exclusivamente com NTN-Bs, com cerca de R$ 2 bilhões e mais de mil cotistas. Para se manter próximo das famílias que possuem recursos mais volumosos, o banco promove todo ano cerca de dez eventos internacionais para falar de governança familiar, empresarial e sucessão.

Visto ainda como um importante veículo de planejamento tributário, a previdência acaba sendo indicada independentemente da questão sucessória, pois alguns especialistas veem resistência e falta de conhecimento das famílias em relação aos benefícios do produto. "Isso porque para muitos clientes é um tabu tratar de tema sucessório", afirma Leandro Karam, superintendente de investimentos do private banking do Bradesco. Karam trabalha com grupos segmentados dentro do private: cliente private, de R$ 3 milhões a R$ 19 milhões, o high, de R$ 20 milhões a R$ 49 milhões e o ultra high, acima de R$ 50 milhões.

O banco tem uma área totalmente dedicada ao planejamento financeiro, sucessório, tributário e de governança das famílias. "Nossa área de wealth management faz um mapeamento detalhado do patrimônio disponível das famílias para poder orientá-las corretamente", diz o executivo. O Bradesco possui em carteira entre 25 a 35 famílias no segmento no segmento ultra high, de 45 a 55 no high e de 65 a 75 no private. O PL da previdência representa 9% da carteira dos milionários, um segmento que avançou 11% no banco no primeiro semestre de 2016.

No aspecto tributário tem mais um detalhe que pesa a favor da escolha de previdência. Dependendo do Estado onde o beneficiário reside, não há incidência do ITCMD (Imposto sobre Transmissão de Causa, Morte ou Doação) que recai sobre o tradicional inventário e que varia de 2% a 8% sobre o patrimônio. "Isso porque no entendimento de alguns Estados, o VGBL é considerado seguro de vida", lembra Natália Zimmerman, superintendente de private banking do Santander.

A base legal está no artigo 794 do Código Civil que diz que capital de apólice de seguro de vida não é considerado herança para todos os fins de direito. "Essa é uma vantagem incrível", diz Zimmerman, que tinha R$ 60 bilhões em PL alocados do private em dezembro de 2015. Mas nem todos os Estados entendem desta forma.

Com PL no segmento private estimado em pouco mais de R$ 100 bilhões, o Banco do Brasil também vê a previdência avançar entre os milionários. Dependendo do perfil, o cliente pode optar por fundos exclusivos de previdência com ativos atrelados ao CDI, papel indexados à inflação, mix de renda fixa ou variável e por aí vai, diz Ademir Pereira, gerente executivo de private banking do BB. 

(Roseli Loturco - Valor Online)

Para melhorar a sua experiência utilizamos cookies essenciais e de acordo com a nossa Política de Privacidade, ao continuar navegando, você declara que concorda com estas condições.