04/11/2016

População brasileira envelhece sem sair da pobreza

O Brasil está envelhecendo – e vai envelhecer muito rapidamente

“O Brasil está envelhecendo – e vai envelhecer muito rapidamente – antes de ficar rico. Vai ser uma tragédia”. A constatação é do economista, doutor em Ciência Política, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e professor da Universidade Candido Mendes, Paulo Tafner, em palestra na Associação Comercial de São Paulo (ACSP), na última segunda-feira, durante reunião do Conselho de Economia da entidade, presidido pelo economista Roberto Macedo.

De acordo com Tafner, o país segue na contramão de alguns países europeus como França, Áustria e Itália, cujas populações envelheceram depois que essas nações já haviam atingido alto grau de desenvolvimento. Essa pressão demográfica, segundo ele, é o principal problema enfrentado pelo sistema previdenciário brasileiro. Ele exemplificou esse fenômeno com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os quais indicam que na década de 1970 a mulher brasileira tinha, em média, cinco filhos. Essa média caiu, nos últimos anos, para 1,78, menor do que a dos Estados Unidos, por exemplo.

Ainda no entendimento do economista, o problema da Previdência no Brasil também tem raízes culturais. Enquanto nos EUA a aposentadoria é vista como um acúmulo de poupanças, no Brasil é vista como lazer.  – É uma visão que está encruada na cultura brasileira e que impede que tratemos o tema previdência com um pouco mais de lucidez – afirmou. Segundo projeções apresentadas por Tafner, em 2050 o Brasil terá 3,6 milhões de cidadãos acima de 90 anos e 300 mil com mais de 100 anos. Para o especialista, esse fenômeno criará não apenas uma pressão sobre a Previdência, mas também sobre o sistema público de saúde.

– Estamos vivendo mais, mais gente sobrevivendo. Em compensação, tem um custo de vida maior. O custo de saúde no país vai mais do que dobrar – disse, ressaltando também que o valor gasto com saúde com um indivíduo de 60 anos chega a ser 12 vezes maior do que o montante direcionado a uma criança. O quadro, segundo ele, é ainda mais grave porque o envelhecimento da população brasileira é acompanhado pela baixa produtividade, que cairá ainda mais nas próximas décadas em decorrência da falta de mão de obra qualificada.

– Nós vamos ter de ter estímulo para trazer mão de obra jovem. Mas não adianta trazer gente cuja produtividade média é menor do que a brasileira. Trazer haitiano, bolivianos… Nada contra eles, mas eles não agregam à produtividade média brasileira – disse. Para Tafner, mantidas as regras atuais da Previdência, ela consumiria até 21% do PIB nos próximos anos. – As gerações futuras estarão condenadas à pobreza. Para evitar esse cenário, diz ele, é preciso urgentemente aprovar a reforma, mas obedecendo a certos critérios.

Entre as medidas destacadas pelo economista estão a preservação dos direitos dos atuais beneficiários; a definição de regras de transição para os contribuintes ativos; a extinção progressiva de aposentadorias especiais (professores, militares, policiais) e da diferença entre homens e mulheres; a desindexação do salário mínimo; e a desconstitucionalização da Previdência. Esse, aliás, é um dos aspectos mais importantes na avaliação de Tafner, visto que a inclusão de regras para a Previdência na Constituição trava o seu avanço. Ele defende que as mudanças no sistema previdenciário sejam feitas por leis infraconstitucionais, o que tornaria mais dinâmica a adaptação às mudanças demográficas do país. – Temos a oportunidade agora de fazer reformas importantes, mas não temos tempo a perder. Já tiramos a molecada do poder, e agora é hora de gente séria – concluiu. 

(Jornal Monitor Mercantil)

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