11/02/2016

País fechou 1,5 milhão de empregos em 2015

Em ano de crise econômica, o mercado de trabalho brasileiro registrou forte retração em 2015, com o fechamento de 1,5 milhão de empregos com carteira assinada

O resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) é o pior dos últimos 24 anos, conforme informou ontem o Ministério do Trabalho e Previdência Social. O mercado já espera que 2016 tenha desempenho semelhante, com alguns analistas prevendo um ano ainda pior.

O economista-chefe da Icatu Vanguarda, Rodrigo Melo, avalia que a tendência é de um maior número de dispensas à medida que a crise econômica se acentua. "O desemprego vai aumentar e podemos ver a taxa chegar aos dois dígitos já nos dados da Pnad (Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios do IBGE) de março", afirmou.
O saldo de 2015 foi muito inferior ao do ano anterior, quando o País gerou 420 mil vagas formais, pela série com ajuste, que inclui dados entregues com atraso pelas empresas.

Com o dado negativo do ano passado, o estoque de empregos no País - que vinha em crescimento contínuo até 2014 - caiu 3,7%, retrocedendo ao patamar observado em 2012.
O mês de dezembro foi responsável por mais de um terço do dado negativo do ano. No total, foram encerradas 596 mil vagas no mês passado.
Os dados foram lidos com otimismo pelo ministro do Trabalho e Previdência Social, Miguel Rossetto, que, mesmo contra as projeções de mercado, espera uma reversão do quadro negativo da economia ainda neste ano e a retomada das contratações.

Para ele, não há retrocesso no mercado de trabalho.

"Se tivemos um ano difícil em 2015, preservamos as conquistas no emprego", disse.O ministro afirmou que a melhora no quadro será possível com os efeitos positivos da redução da inflação, que dinamiza a demanda, da desvalorização do real, que beneficia os exportadores, e da ampliação do crédito, fortemente defendida pelo ministro da Fazenda, Nelson Barbosa.

Setores

Em 2015, a indústria foi responsável pelo maior número de cortes de vagas com carteira assinada.
No total, o setor encerrou 608,9 mil postos de janeiro a dezembro. A construção civil - importante termômetro do desempenho da atividade econômica - ficou com o segundo pior desempenho, com menos 417 mil vagas no ano passado.

Para o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, a construção civil deve perder ainda mais empregos em 2016. "Não tem obra começando, só acabando. Terminou a obra, dispensa o trabalhador", afirmou, se referindo ao ritmo lento de programas como o Minha Casa Minha Vida.

O setor de serviços, por sua vez, fechou 276 mil empregos, enquanto o comércio teve, em 2015, menos 218,7 mil postos. O analista econômico da RC Consultores Everton Carneiro avalia que os dois setores podem ter um desempenho ainda pior neste ano e fechar até dois milhões de postos. "O comércio e os serviços empregam 27 milhões de trabalhadores. Caso esses setores sofram o mesmo ajuste que a indústria está sofrendo, podemos chegar a 2 milhões de desempregados em 2016", disse Carneiro.

O único setor que apresentou abertura de vagas no ano passado foi a agricultura, com um saldo positivo de 9,8 mil postos.

Renda

Em meio à retração no número de vagas de emprego formal, 2015 também apresentou uma redução nos rendimentos dos trabalhadores.

De acordo com os dados do Caged, os salários médios de admissão tiveram queda real de 1,64% no ano passado. O valor médio foi de R$ 1.291,86 em 2014, para R$ 1.270,74.

"Os dados mostram uma capacidade de resistência da renda média neste mercado de trabalho, que preserva o poder de compra muito próximo à inflação", avaliou Rossetto. Segundo o ministro, a redução no número de empregos foi proporcionalmente mais forte que a queda na renda do trabalhador.

Entre os homens, a retração dos salários de admissão foi mais acentuada, com uma redução real de 2,28%, enquanto as mulheres tiveram uma perda média de 0,34%.

Pelo recorte regional, apesar dos números negativos em todo o País, o Sudeste concentrou a maior parte dos fechamentos de vagas de trabalho.

Foram menos 891 mil empregos em 2015, mais da metade desse número apenas no Estado de São Paulo. Para o ministro Rossetto, o dado se justifica pela grande concentração industrial na região. O Nordeste teve o segundo pior resultado, com o fechamento de 254 mil empregos, enquanto a Região Sul encerrou 229 mil vagas.

O líder do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), disse que o resultado do Caged mostra que "o desespero bate à porta do trabalhador", com o número recorde de empregos fechados no ano passado. Em nota, Bueno diz que os números são alarmantes, "um desastre do ponto de vista social", já que se trata de desemprego afetando milhares de famílias.

"Os números assustam, mas o governo continua a fazer propaganda na televisão e o PT também, quando na realidade a incompetência campeia", afirmou Bueno.

(Bernardo Caram , colaboraram Lucas Hirata, Mateus Fagundes e Daiene Cardoso - O Estado de S.Paulo)

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