20/11/2015

Mercado Financeiro

Mercado ajusta preços após decisão da S&P

O mercado financeiro teve uma reação moderada à decisão da S&P de tirar o selo de grau de investimento do Brasil. Embora a ação tenha vindo antes do que se esperava - e, pior, acompanhada pela perspectiva negativa -, dólar, juros e a bolsa encerraram a sessão com as cotações distante dos piores momentos do dia. Esse relativo sangue-frio, entretanto, está longe de indicar que o pior já passou. Agentes ainda contam com muita volatilidade pela frente e veem espaço para desvalorização cambial adicional e, dessa forma, colocam em pauta a possibilidade de o Banco Central ter de subir os juros. 

Logo na abertura, o mercado mostrou maior tensão, o que levou a BM&F a estender leilões de pré-abertura no mercado de juros e câmbio, buscando dar parâmetro de preços aos investidores. Foi no começo dos negócios que a moeda americana rompeu o limite de R$ 3,91, levando o Banco Central a mais uma atuação no mercado por meio de oferta extraordinária de linhas de dólares, a segunda em uma semana. A pressão diminuiu e a moeda americana fechou em alta de 1,32%, a R$ 3,8488. 

Da mesma forma, os juros futuros dispararam e romperam o patamar de 15% em praticamente todos os vencimentos. Diante dessa instabilidade, o Tesouro também agiu. Suspendeu o leilão de títulos prefixados - no terceiro cancelamento de oferta de papéis em uma semana -- e fez uma oferta robusta de 4 milhões de LFTs, títulos pós-fixados, mais demandados em tempos de crise. 

Ontem a taxa do contrato DI para 2016 subiu de 14,38% para 14,5% na BM&F, enquanto o DI para 2021 foi de 14,74% para 15,15%. 

Já o Ibovespa, que caiu 2,28% na mínima do dia, fechou a sessão com baixa de apenas 0,33%. 

A reação comedida do mercado confirma que a perda do grau de investimento já estava sendo colocada nos preços. E desde a sexta-feira passada, parece ter entrado de vez nos preços que melhor captam essa expectativa. O dólar se aproximou de R$ 3,90 na semana passada, enquanto o juro das NTN-Bs de longo prazo romperam os 7,6% esta semana pela primeira vez desde a crise de 2008. 

O custo do CDS de cinco anos do Brasil, que mede o risco de calote da dívida soberana, já refletia a perda do grau de investimento há semanas e, ontem, marcou 386 pontos-base, acima do CDS da Rússia, em 370 pontos, chegando a 396 pontos durante o pregão. 

Com o corte da nota brasileira e a dificuldade do governo em fazer um ajuste para estabilizar a dívida pública bruta, o país começa a perder atratividade para outros emergentes, inclusive a Rússia, que também perdeu o selo de bom pagador. "Eu acho que em termos de política fiscal e de liquidez do setor público, investir na Rússia é mais seguro que no Brasil", diz Daniel Tenengauzer, chefe de estratégia de emergentes e de estratégia global de moedas do RBC Capital Markets. Apesar do rebaixamento, ele não espera forte redução da participação dos estrangeiros na dívida pública doméstica, que estava em 19,56% em julho. 

Outro argumento para o mercado ter moderado a reação é a expectativa de que, diante do fato consumado, o governo reaja. E, dessa forma, afaste o risco de que uma segunda agência rebaixe a nota do Brasil. 

Para o diretor do grupo de pesquisas econômicas para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, o envio ao Congresso do Orçamento com um rombo de R$ 30,5 bilhões em 2016 acelerou a decisão da S&P. Novos rebaixamentos vão depender das ações de política econômica que o governo adotará. "Tudo vai depender de como o governo vai reagir. Ele pode enfraquecer o esforço fiscal e evitar pagar o custo político de ter de cortar gastos obrigatórios. Se isso acontecer, é provável que tenhamos novos rebaixamentos. Outro caminho é o governo entender que isso é sério e acelerar o ajuste fiscal, apresentando um plano de médio e longo prazos", afirma. 

Ramos destaca que o rebaixamento da nota do Brasil já é suficiente para alguns investidores reduzirem a posição em ativos brasileiros, e se o cenário piorar, pode haver uma disparada do dólar, com a moeda alcançando R$ 4,50. "Ninguém vai esperar o rebaixamento do grau de investimento por outra agência para reduzir a posição em Brasil. Algumas seguradoras já não podem investir em países abaixo do grau de investimento, mesmo que por apenas por uma agência." 

Contudo, a deterioração adicional das expectativas para o Brasil pode levar o dólar para R$ 4,40 nas próximas oito semanas, diz o estrategista do Société Générale em Londres, Bernd Berg. "Estamos nos aproximando de um cenário em que o rebaixamento por outras agências se torna mais provável." 

O real é a moeda com pior desempenho entre os emergentes. "Se você olhar para as questões domésticas, basicamente tudo está indo errado com o Brasil", diz, lembrando ainda que o país sofre com a possibilidade de alta de juros nos EUA e a desaceleração no crescimento da China. 

Para tentar conter a forte alta do dólar, que sobe 6,1% neste mês, o BC ofertou US$ 1,5 bilhão com compromisso de recompra. Na terça-feira, já havia ofertado US$ 3 bilhões. 

A rápida valorização do dólar pode levar o BC a subir a Selic. "Esse não é o cenário agora, mas claramente o balanço de risco para a inflação piorou", diz Ramos, do Goldman. 

O Nomura avalia que a cotação de dólar a R$ 4, que previa para o fim do ano, agora parece otimista. O banco diz acreditar haver espaço para o Banco Central fazer mais intervenções no mercado de câmbio, para limitar uma desvalorização maior do real. (Silvia Rosa e José de Castro, colaborou Assis Moreira, de Genebra - Valor Online)

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