09/08/2016

Mercado está impaciente

A lua de mel do mercado com a equipe econômica do presidente interino, Michel Temer, dá sinais de esgotamento

A lua de mel do mercado com a equipe econômica do presidente interino, Michel Temer, dá  sinais de esgotamento. Se o governo titubear e mostrar que, depois do impeachment, vai relaxar o compromisso fiscal, não haverá mais complacência, apontam especialistas. Ontem, o mercado financeiro andou de lado, de olho nas declarações do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que acumula valorização de 32,96% no ano, recuou 0,04% aos 57.635 pontos. O dólar, depois de ter caído 2,24% na semana passada, fechou com leve queda de 0,04%, cotado a R$ 3,169.

Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio da MB Associados, os desafios do governo no Congresso Nacional são enormes, e a cobrança do mercado para que o ajuste fiscal saia do papel deve aumentar significativamente nas próximas semanas. Ele destacou que a equipe econômica tem a dura missão de reconstruir a credibilidade do governo perante os analistas e de sensibilizar os parlamentares para aprovar o teto para o crescimento dos gastos públicos e a reforma da Previdência. "Cerca de 80% da percepção de melhora leva em conta as expectativas do mercado e apenas 20% se baseiam em números frágeis de alguns setores que precisam se consolidar. Por isso há desconfiança", comentou.

Na opinião da economista-chefe da XP Investimentos, Zeina Latif, as lideranças políticas, do setor produtivo e da sociedade civil organizada precisam fazer um debate em alto nível para acabar com os ruídos que surgiram nas últimas semanas. Zeina criticou os reajustes salariais concedidos pelo governo aos servidores e que têm impacto nas finanças de estados e municípios. Essas atitudes, conforme ela, dão margem para questionamentos do mercado sobre o compromisso do governo com o reequilíbrio nas contas públicas. "Nesse sentido, as lideranças precisam participar desse debate. Afinal de contas, poder vem junto com responsabilidade. E a elite política precisa participar e estimular esse debate", disse.

André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, assinalou que o mercado está exigindo demais do governo. "Ele não tem como entregar o conjunto de medidas necessárias no curto prazo. E o mercado está impaciente diante dessa percepção de impossibilidade de melhorar o resultado fiscal. Eu acho que não vai sair nada de muito excepcional até depois das eleições de outubro", estimou, ressaltando que o mercado está antecipando a discussão. "Há uma série de questões que o governo tem que enfrentar por conta de uma agenda política. Quem tem pressa vai se decepcionar", sentenciou.  

(Antonio Timóteo - Correio Web)

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