05/01/2016

Luciano Batista: Fiscalizações mais rigorosas

Fundações devem se preparar para fiscalização mais rigorosa

Fundações devem se preparar para fiscalização mais rigorosa, diz Luciano Batista Ex-Previ e ex-BB DTVM, Luciano Batista, analisa as dificuldades enfrentadas pelo mercado de custodiantes no Brasil em virtude dos desafios de incorporar as evoluções tecnológicas mais recentes da indústria. O executivo ocupa atualmente o cargo de diretor da unidade de negócios da Senior Solution, uma das principais empresas fornecedoras de softwares e sistemas para custodiantes, administradores de recursos e fundos de pensão.
Em entrevista exclusiva para a InvestidorOnline, Batista ressalta também a importância dos fundos de pensão em adotar sistemas que vão além da custódia centralizada e que deveriam incluir controle de risco e sistemas de gestão mais eficazes. O executivo explica que em virtude do cenário político, com o avanço dos trabalhos da CPI, a fiscalização tende a ficar mais rigorosa para os fundos de pensão. Isso deve ampliar a necessidade de maior controle na gestão e transparência por parte dos dirigentes. Batista atuou na Previ entre 1999 e 2003 e na BBDTVM entre 2003 e 2013. Leia entrevista a seguir:

Investidor Online - Como avalia os sistemas de custódia adotados pelas instituições financeiras, pelos principais players do mercado?
Luciano Batista - A indústria inteira enfrenta atualmente o problema de eficiência, é necessário melhorar a eficiência na área de administração e custódia. É uma área intensiva de pessoas. Para conseguir ganhos de eficiência é necessário buscar uma evolução tecnológica. O problema é que essa é uma área crítica, de processos críticos. O que precisa ser feito é a troca de sistemas, de aperfeiçoamento de sistemas. Mas isso leva algum tempo, de um a dois anos.

IO - Em geral, como os gestores e fundações estão avaliando os serviços prestados pelos custodiantes?
LB - Acho que eles e os demais players tem um desafio de melhorar o padrão de atendimento. A verdade é que os gestores e a indústria em geral estão todo mundo insatisfeito com o padrão dos serviços que são prestados. E a melhoria depende da evolução dos sistemas tecnológicos.

IO - E as fundações, como estão lidando com o serviço de custódia?
LB - As fundações estão enfrentando um ambiente cada vez mais desafiador. Elas vão precisar não só aumentar a profissionalização, mas melhorar o retorno dos investimentos. O déficit das fundações desde 2012 vem crescendo muito, ano a ano, e 2015 não deve ser diferente. É curioso que todos dizem que quando a renda fixa está em alta, então a situação fica melhor, mas não é isso que estamos percebendo. Até porque a inflação tem subido muito também, então as metas atuariais ficam difíceis de ser batidas. E os planos estão mais maduros, e vão precisar de maior liquidez nos próximos anos.

IO - E como enfrentar essas dificuldades?
LB - Acho que em algum momento as fundações vão ter que voltar a diversificar mais as carteiras. Não tem como não tomar um pouco mais de riscos para bater as metas. E nesse sentido, terão que melhorar os sistemas de controles. E isso não deve ficar só nas mãos dos custodiantes, isso não é suficiente. Além do que a fiscalização deve ficar cada vez mais rigorosa nos próximos anos, vai exigir maior controle.

IO - Por que você acha que a fiscalização vai ficar mais rigorosa?
LB - Sempre que tem, por exemplo, uma CPI, como essa dos fundos de pensão, sempre que tem esse tipo de movimentação política, na sequência, deve aumentar o rigor na fiscalização, o nível de exigência no detalhamento dos investimentos vai aumentar. A legislação deve acompanhar essa movimentação, assim como aconteceu no passado.

IO - Pode dar alguns exemplos de regras que trazem maior exigência de rigor e transparência?
LB - Por exemplo, todas as exigências de prestação de informações aos participantes. Os próprios participantes também estão mais exigentes no acompanhamento das políticas implementadas. As fundações terão que melhorar, principalmente na parte de investimentos, os seus recursos tecnológicos. Não dá pra ficar só com o serviço simples de custodiante que é o que a maioria tem hoje. Tem que complementar com análise de risco no mínimo, toda essa parte que a supervisão baseada em risco vai começar a exigir.

IO - A própria responsabilização dos dirigentes é uma questão importante para os fundos de pensão, não é mesmo?
LB - Claro que sim, a responsabilidade do diretor de investimentos da fundação tem aumentado muito. Acho que a regulamentação começou a cobrar em um primeiro momento da certificação desse gestor, mas na verdade, a exigência está cada vez maior.

IO - E a CPI dos fundos de pensão é o principal motor para o aumento do rigor na fiscalização?
LB - Acho que a CPI é um fator que aumenta ainda mais essa tendência que já vinha anteriormente de maior rigor na gestão dos fundos de pensão. É um ciclo que já vimos anteriormente. Mas é que os fatos vêm à tona. A medida que a própria indústria não quer ser contaminada por isso, porque não há dúvida que a solução é a previdência complementar, até para dar uma resposta a esta questão, a própria indústria dá uma resposta no sentido de buscar maior transparência. Para não contaminar toda a indústria, porque os dirigentes sabem que os problemas são pontuais, que não atingem toda a indústria.

IO - Quais as perspectivas para a previdência complementar neste cenário de crise econômica e política?
LB - Acredito que a crise política e fiscal está trazendo de volta a discussão sobre a reforma da previdência social. E neste contexto, acredito que a previdência complementar vai ganhar cada vez mais relevância, porque em algum momento vão ter que mexer na idade mínima e na desvinculação do salário mínimo. E o caminho levará ao fortalecimento da previdência complementar, tanto aberta quanto fechada. Veja a solução encontrada para o funcionalismo público, que significa um forte impulso para a previdência fechada.

IO - Tem espaço para crescimento tanto para previdência fechada quanto para aberta?
LB - Sim, tem espaço para as duas. E acredito que a previdência fechada vai crescer mais que a aberta, porque a fechada conta com a figura do patrocinador e do instituidor. Isso deve levar a um crescimento maior da previdência fechada no futuro.

IO - Quais os principais players do mercado de custódia atualmente no mercado brasileiro?
LB - É um mercado bastante concentrado. Os principais players no mercado doméstico hoje são Itaú, Bradesco, Banco do Brasil e Santander. Com a saída do HSBC, restam esses quatro grandes players. O Santander é um concorrente que deve entrar mais forte neste mercado, após a venda da unidade de custódia para os fundos Warburg Pincus e o Temasek, de Cingapura. É um dos grandes que está se movimentando para ampliar atuação no mercado de securities services.

IO - E os demais concorrentes, têm espaço nesse mercado de custódia?
LB - Sim, você tem outros players menores, como o BNY Mellon, o BNP Paribas, o Citi e outros estrangeiros, você pode pegar os doze maiores do ranking, que todos têm algum espaço. Mas a questão é que o mercado é muito consolidado, é um mercado em quem tem condições de oferecer um serviço de qualidade, vai crescer mais rapidamente. A verdade é que falta hoje um player que tenha algum diferencial forte de serviço e de tecnologia para dominar o mercado como um todo.

(Agência Investidor Online)

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