A forte aceleração do Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) que avançou de 0,36%, em abril, para 1,13%, em maio, foi provocada por um choque de preços nos produtos agrícolas, especialmente os do complexo soja, de acordo com a FGV. A forte alta desses produtos deve pressionar a inflação ao consumidor nos próximos dois meses por meio de repasses, para os preços das carnes, por exemplo, na avaliação do superintendente adjunto de inflação da instituição, Salomão Quadros. A alta de itens administrados também contribuiu para que o IGP-DI subisse ao maior nível para o mês desde 2010.

O clima afetou a parte final da produção de soja no país, destacou Quadros. "Por uma questão de seca, mais no final da safra, os produtores não concluíram a colheita com a mesma fartura que vinham conseguindo antes, foi meio uma frustração", avaliou.

O preço do farelo de soja disparou: subiu 25,19%, em maio, após queda de 0,74%, em abril. O farelo de soja pesa 1,37% do índice, mais do que outros segmentos relevantes, como insumos para petroquímica e siderurgia.

Os produtos industriais aceleraram de queda de 0,07% para alta de 0,71%, entre abril e maio. No ano, o grupo acumula alta de 2,24%, bem abaixo dos 10,75% dos produtos agropecuários no período. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA) subiu 1,49%, ante 0,29% em abril.

Nas matérias-primas brutas, a variação passou de 1,77%, em abril, para 3,58%, em maio. O resultado foi puxado por soja em grão (3% para 14,01%) e milho (6,62% para 9,61%). A expectativa é que nos próximos dois meses a alta seja repassada ao consumidor.

Mesmo que os preços das carnes não subam no mesmo ritmo que a soja, por um mecanismo de substituição e compensação, deve haver transmissão de preços para outros itens. O item alimentação passou de alta de 0,69%, em abril, para 0,77%, em maio. Ao todo, o Índice de Preços ao Consumidor, dentro do IGP-DI, também acelerou de 0,49% para 0,64% no período.

O dólar se adiciona aos demais fatores que pressionaram o IGP-DI. "A valorização do câmbio, que traz um efeito desinflacionário, está perdendo força", destacou Quadros. Produtos siderúrgicos passaram de queda de 0,35% para 2,67%. Já em metais não ferrosos, muito sensíveis ao câmbio, a queda perdeu força: de perda de 4,32% passou para recuo de 1,18%.

Na avaliação do Bradesco, "a aceleração do IGP-DI em relação ao mês anterior refletiu, em grande medida, a alta de 1,14% para 3,31% dos produtos agropecuários no atacado". Em nota, o banco destaca a evolução dos preços da soja.

Ainda que o dólar tenha se mantido relativamente estável em maio, as cotações da soja subiram na bolsa de Chicago, influenciando o preço no mercado doméstico. Na ponta industrial, a inflação também subiu pressionando o IGP-DI.

O IPA dessa parcela de produtos saiu de deflação de 0,07% para alta de 0,71%, refletindo, entre outros fatores, os reajustes no preço do aço em maio.

No varejo, reajustes nas contas de luz, água e esgoto e cigarros aceleraram o IPC de 0,49% para 0,64%. Para a Infinity Asset, as últimas leituras de inflação, tanto dos IGPs quanto dos IPCs, adiam o cenário de queda de juros.

O núcleo da inflação ao consumidor medida no âmbito no IGP-DI ficou praticamente inalterado em maio e, além disso, o aumento de preços foi menos disseminado entre os itens que compõem o IPC, de acordo com a FGV. O núcleo do IPC registrou taxa de 0,61% em maio, ante 0,60%, apurada no mês anterior. O núcleo mede a inflação desconsiderando itens cujos preços são mais voláteis.

Dos 85 itens componentes do IPC, 41 foram excluídos do cálculo do núcleo. Destes, 22 apresentaram taxas abaixo de 0,27%, linha de corte inferior, e 19 registraram variações acima de 0,98%, linha de corte superior.

A Fundação Getulio Vargas também informou que, em maio, o índice de difusão, que mede a proporção de itens com taxa de variação positiva, foi de 66,27%, ante 68,64%, no mês anterior.  

(Robson Sales e Ana Conceição - Valor Online)