09/03/2016

Fundos instituídos: Aposta certa

Os fundos instituídos são facilmente reconhecidos hoje como uma das mais vigorosas vertentes de expansão da previdência complementar fechada no Brasil

Os fundos instituídos são facilmente reconhecidos hoje como uma das mais vigorosas vertentes de expansão da previdência complementar fechada no Brasil, mesmo porque os números confirmam isso a todo momento.

Mencionada pela primeira vez em 2001 pela Lei Complementar 109, que estendeu a cobertura aos trabalhadores vinculados a sindicatos, cooperativas, associações e órgãos de classe, essa previdência de natureza associativa iniciou a sua caminhada de fato em 2003 e deslanchou na segunda metade da década passada. De cinco fundos, em 2005, e R$ 111,8 milhões de patrimônio, passaram a 20, com 497 instituidores, cerca de 191 mil participantes e 300 mil dependentes em junho de 2015. E R$ 4,03 bilhões em ativos totais em outubro. Já representam 5,4% do total de planos e aproximadamente 0,5% dos ativos totais da previdência privada fechada.

Estudo da Secretaria de Política de Previdência Complementar (SPPC) do Ministério do Trabalho e Previdência Social, divulgado   em janeiro último, destaca que o número de fundos instituídos cresceu 300% nesses dez anos. O patrimônio foi multiplicado 27 vezes e o potencial de crescimento continua grande.

Segundo o informe da SPPC, o número de adesões anuais a esses fundos cresceu 300% em 10 anos: de 8,9 mil, em 2005, para 32,3 mil em 2014. Os fundos instituídos   pagam benefício médio de R$ 3,8 mil.

O Secretário de Políticas de Previdência Complementar, Carlos de Paula, nota que o potencial à frente é muito grande. É que o contingente protegido por planos dessa modalidade é de 500 mil pessoas no Brasil, enquanto 29,5 milhões de brasileiros integram entidades de classe e cooperativas. “Existem 16 mil entidades que podem criar seus fundos instituídos no Brasil. Assim, o espaço para crescer é muito grande”, observa de Paula.

O Quanta Previdência,  com 49 mil participantes e patrimônio de R$ 1,4 bilhão, tem um público-alvo de 230 mil pessoas, ampliado para 450 mil, avalia a diretora administrativo-financeira Denise Maidanchen, depois que o Conselho Nacional de Previdência Complementar (CNPC) ampliou o conceito de membro, agregando dependentes e associados indiretos. O Quanta é um dos mais antigos do segmento, foi criado em 2004 pelo sistema Unicred, cooperativa de crédito ligada à Unimed, e mais recentemente assumiu também a gestão de um plano voltado para pastores evangélicos, totalizando dois planos e 46 instituidores. O número de participantes do Quanta cresceu 23% em 2014 e 27% no ano passado; já o patrimônio aumentou 42% e 48%, respectivamente.

Criado um pouco depois, em 2006, o OABPrev-SP ampliou em 5,2 mil o quadro de participantes no ano passado, para um total de 38 mil. Foi um resultado “esplêndido”, segundo o presidente da OABPrev-SP, Luis Ricardo Marcondes Martins, também diretor da Abrapp, não apenas pelo crescimento em si mas considerando também as dificuldades do País. A OABPrev-SP tem como meta atrair mais 6 mil participantes neste ano, dentro de seu público-alvo de advogados associados a oito OABs --  abrange além da OAB de São Paulo também as de Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe. O patrimônio chegou a R$ 420 milhões em dezembro.

Um dos mais novos do mercado parece indicar  também a viabilidade dos fundos instituídos setoriais. É o  Industriaprev, criado em maio de 2015 pela  Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), por meio da Previsc, entidade sem fins lucrativos com 28 anos, que atende a própria Fiesc e suas entidades, além das federações das indústrias do Paraná, Mato Grosso, Piauí e Maranhão, do Sesc, do Senac e da Fecomércio SC. Podem aderir ao Industriaprev empresas pequenas, médias e grandes, além de trabalhadores, de forma individual. Em pouco mais de meio ano de existência, amealhou 259 participantes e R$ 1 milhão de patrimônio, mas trabalha com um mercado potencial de 806 mil trabalhadores de 50 mil estabelecimentos industriais de Santa Catarina.

Vantagens - A confiança dos administradores dos fundos instituídos na atração de mais participantes se deve às vantagens percebidas no produto. Os fundos instituídos não contam com a contribuição de um patrocinador e, portanto, nesse aspecto se parecem um pouco mais com as alternativas da previdência aberta e seu Plano Gerador de Benefício Livre e o Vida Gerador de Benefício Livre (PGBL e VGBL) em relação aos quais têm como importante vantagem custos mais baixos de administração, que variam de 0,5% a 1% do patrimônio. “Não há no nosso caso fins lucrativos”, explica Martins da OABPrev-SP e da Abrapp.

Denise Maidanchen, da Quanta, calcula que a renda de um participante de plano instituído pode ser duas vezes maior do que o da previdência aberta por conta das taxas menores cobradas. Cada um faz sua reserva e recebe  toda a rentabilidade líquida obtida. O patrimônio previdenciário dos participantes está segregado e protegido pela legislação, que exige a blindagem dos recursos. Os fundos instituídos sempre são do tipo de contribuição definida e a administração dos recursos deve ser terceirizada.

Os planos também são bastante flexíveis, diz Martins, e permitem a aposentadoria programada e pensão por morte ou invalidez.

O Industriaprev, por exemplo, oferece três perfis de investimento, o moderado, o arrojado e o conservador. Mas tem registrado maior procura pelo conservador, o que a superintendente Régida Frantz atribui às incertezas do cenário econômico atual e à rentabilidade superior à meta atuarial que essa alternativa vem registrando.

Por mais que a pessoa seja competente para gerir seus próprios recursos e tenha disciplina e constância na aplicação de valores, dificilmente ela terá os mesmos resultados e a mesma segurança que os investimentos feitos por equipes de especialistas contratados pelo fundo instituído, afirma Maria Tereza Uille Gomes, diretora-presidente da Jusprev, previdência associativa dos membros do Ministério Público, da Justiça Brasileira e dos Auditores Fiscais da Receita Federal, fundada em 2008. O colégio de instituidoras da Jusprev é composto por 56 associações de classe. O fundo tem 2,5 mil participantes e o patrimônio atingiu R$ 114,6 milhões no fim de janeiro, depois de ter crescido 33% em 2015 e 31% em 2014.

No fim do ano passado, após intensa gestão da Abrapp, lembra Martins, uma resolução do CNPC aumentou a competitividade dos fundos instituídos ao permitir, para atender a necessidade ditada por uma eventual urgência financeira do participante,  o resgate parcial de até 20% dos recursos depositados, como é permitido nos PGBLs e VGBLs. Anteriormente, só era possível resgatar tudo, o que terminava representando na prática a exclusão da pessoa que desejava retirar apenas parte da poupança e não tudo.

Mas, alguns outros aperfeiçoamentos são necessários nos fundos instituídos, em sua maioria de caráter tributário, defendem os administradores. Uma das sugestões é conceder incentivo tributário aos participantes que declaram o Imposto de Renda (IR) no formulário simples. Atualmente apenas os que o fazem no formulário completo é que podem deduzir as contribuições feitas até o limite de 12% da renda tributável.

Outro ponto defendido pelos fundos instituídos é incentivar tributariamente as contribuições do empregador. Embora essas contribuições não sejam obrigatórias, como nos fundos patrocinados, muitos empregadores, como os escritórios de advocacia, gostariam de fazê-lo eventualmente, nota Martins. Mas não há estímulo para isso. O presidente da OABPrev e diretor da Abrapp também sugere que a opção entre a tributação progressiva e a regressiva seja postergada e que as aplicações mais longas, acima de 15 anos a 20 anos, possam ser isentadas de tributação para incentivar a poupança de longo prazo. Martins não espera mudanças de regras a curto prazo diante das restrições fiscais atuais do país, mas conta com um aperfeiçoamento em um horizonte mais longo.

(Chris Carvalho - Diário dos Fundos de Pensão)

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