29/03/2016

Fundos de estatais têm rombo de R$ 45,3 bi

Enquanto os fundos de pensão patrocinados por empresas privadas têm conseguido resultados positivos nos últimos anos, os de entes públicos amargam prejuízos

Enquanto os fundos de pensão patrocinados por empresas privadas têm conseguido resultados positivos nos últimos anos, os de entes públicos amargam prejuízos. De 2005 a 2014, seis das 10 maiores entidades fechadas de previdência complementar de estatais registraram déficit. Em 2015, oito não bateram as metas atuariais e somente Previ (do Banco do Brasil), Petros (da Petrobras) e Funcef (da Caixa Econômica Federal) - as três maiores do sistema - acumularam uma insuficiência de pelo menos R$ 45,3 bilhões.

O déficit aumenta para R$ 47,5 bilhões quando são levados em consideração os prejuízos das cinco maiores entidades fechadas de previdência complementar patrocinadas por estatais. Segundo Guilherme Benites, sócio da Aditus Consultoria Financeira, as políticas de investimentos das fundações mantidas por entes públicos e do setor privado são bastante distintas. Ele comenta que, historicamente, os fundos de pensão de empresas públicas tiveram disposição maior de assumir riscos, por meio de investimentos em ações ou na participação em empresas.

Benites destaca que algumas entidades precisaram diversificar as aplicações para tentar diluir as possibilidades de perda e aumentar a rentabilidade, enquanto as de empresas privadas foram mais cautelosas. "Durante o governo Lula, até pouco depois da crise de 2008, os ganhos compensaram os riscos assumidos. Mas o cenário piorou e quem tinha mais aplicações em renda fixa se beneficiou", comenta. O executivo ainda ressalta que parte dos déficits de alguns planos está ligado às normas para reajuste dos benefícios, que seguem as regras válidas para trabalhadores da ativa.

Um exemplo desse processo pode ser visto na Previ, presidida por Gueitiro Matsuo Genso. O maior fundo de pensão da América Latina, com R$ 167 bilhões em ativos, registrou superavits consecutivos entre 2005 e 2014, devido, sobretudo, ao desempenho da carteira de renda variável, que corresponde à metade do patrimônio. Durante o período de bonança, a fundação distribuiu R$ 25 bilhões aos participantes, que ainda ficaram sete anos liberados de pagar contribuições e tiveram benefícios turbinados.

Entretanto, a piora do mercado de ações, a Operação Lava-Jato e a queda no preço do minério de ferro afetaram a rentabilidade das aplicações da entidade em ações da Petrobras, da Vale e de outras companhias. Até investimentos seguros, como o da Invepar - empresa que controla diversas concessões de infraestrutura - têm dado prejuízo pela montanha de gastos com o pagamento de outorgas. Com isso, a Previ registrou déficit de R$ 16,1 bilhões no ano passado.

Na Petros e na Funcef a situação é pior. O fundo dos empregados da Petrobras registrou déficit em 2013 e 2014. E, em 2015, o prejuízo foi de pelo menos R$ 16 bilhões. A Petros não pode anunciar o resultado do ano passado enquanto as demonstrações contábeis não forem concluídas e aprovadas pelos conselhos deliberativo e fiscal.

A fundação dos trabalhadores da Caixa acumulou insuficiência de R$ 13,2 bilhões nos últimos quatro anos e atribui os prejuízos aos maus resultados das aplicações em renda variável. A Funcef afirma, porém, que, desde 2012, tem ajustado a política de investimentos, aumentando a exposição em renda fixa. O fundo ainda destaca que o aumento das provisões para pagamento de ações judiciais, que chegaram a R$ 1,5 bilhão, teve impacto no resultado. Mesmo com as perdas, a entidade garante que tem capacidade de honrar os compromissos assumidos com os participantes.

Mico

A participação na Sete Brasil, empresa criada para construir 28 sondas de exploração de petróleo em águas profundas para a Petrobras se transformou em um mico. Com uma dívida de cerca de R$ 17 bilhões, a companhia está praticamente quebrada. Depois da Operação Lava-Jato, a petroleira cancelou e revisou contratos. Além da Previ, a Funcef e a Petros são sócias do empreendimento, ao lado de bancos privados e o FGTS.  

(ANTONIO TEMÓTEO - Correio Braziliense)

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