05/07/2016

Dólar perde 16,2% no ano, cotado a R$ 3,23

A desvalorização do dólar que acumula no ano queda de 16,2% já provoca efeito nas agências de viagens.

As lojas estão acompanhando a volta, ainda que meio desconfiada e cautelosa, do turista interessado nos pacotes internacionais. Depois de fechar janeiro operando na média do mês a R$ 4,04, o dólar começou a recuar em fevereiro, trajetória que deve se manter segundo analistas. Se por um lado o câmbio mais baixo favorece as viagens internacionais e as importações, o patamar próximo a R$ 3 pode prejudicar as exportações, que vêm garantindo superávit à balança comercial e são apontadas como uma das alavancas para ajudar o país a sair da crise.

O dólar comercial (venda) desabou ontem, fechando o dia em forte queda de 2,08%, a R$ 3,23, menor cotação em quase um ano - desde 22 de julho do ano passado. Na opinião de especialistas no mercado financeiro, o Banco Central (BC) terá que estabelecer um piso para o câmbio, estabelecendo limites para a desvalorização, já que os cenários internos e externos não apontam para alta da moeda. No início do ano chegamos a vender viagens com o dólar turismo próximo de R$ 4,30, patamar que agora caiu para R$ 3,42, uma diferença perto de 25%", calcula José Carlos Vieira, dono da Acta Turismo. Segundo ele, na última semana o movimento de clientes em busca de pacotes internacionais chegou a crescer 30% em relação ao mês anterior.

Mas o que leva a desvalorização do câmbio? Para Miguel Daoud, analista da consultoria Global Financial, são três fatores principais. O balanço de pagamentos do Brasil com o exterior que está positivo e não é preciso financiar o déficit, que já foi de US$ 100 milhões mensais; o fato de a dívida do Brasil em dólar ser pequena, e ainda a declaração de anteontem do presidente do Banco Central (BC) Ilan Goldfajn. O presidente do BC afirmou que meta da inflação será mantida em 2017, o que significa a permanência dos juros em patamares altos, o que atrai dólares para o Brasil.

Impacto Os efeitos mais rápidos do fortalecimento do real chegam na compra de pacotes. José Carlos Vieira comenta que até início de março o que se via era uma espécie de ciranda no mercado do turismo. "As pessoas não deixaram de viajar, mas passaram a gastar menos. Quem viajava para a Europa passou a viajar para o Caribe, os clientes do Caribe foram para hotéis de cinco estrelas dentro do país, quem se hospedava no cinco estrelas migrou para a categoria inferior." Agora, o executivo já percebe um começo de retorno para os destinos internacionais.

Na operadora de viagens CVC, o gerente de vendas em Minas, Marcelo Nathanson, diz que a desvalorização do câmbio já levou a procura por viagens retornarem aos patamares históricos, onde os destinos internacionais ocupam na empresa fatia de 40%. No início do ano, a proporção havia encolhido para 30%. Na Master Turismo, a gerente de vendas, Alexandra Peconick, comenta que o fortalecimento do real foi decisivo para os clientes que estavam indecisos e levou o movimento de junho, nos pacotes internacionais, a crescer 20% em relação a maio.

A empresária Larah Santana, 33 anos, embarca em julho para o Chile. Quando comprou as passagens, a moeda norte-americana estava no topo, sendo vendida a R$ 4. Agora com a desvalorização, Larah já começa a pensar em gastar um pouco mais no exterior. "Especialmente com a compra de maquiagens. A diferença do dólar desde que comprei as passagens é relevante", ponderou.

Sinal de alerta na exportação

O analista de mercado e professor de finanças Paulo Vieira considera que o país ficou menos turbulento no campo político, por outro lado, os ventos que sopram forte no exterior como a saída do Reino Unido da comunidade europeia contribuem para pressionar a cotação da moeda norte-americana frente o real. Para o analista, o país enfrenta o grande desafio de medir o patamar do dólar que não prejudique as exportações.

Miguel Daoud acredita que o governo já perdeu a medida "O Banco Central terá que colocar um piso para o dólar." Na opinião do especialista o câmbio de paridade, aquele que não afogaria as exportações, seria de RS 3,50. "O governo Michel Temer está fazendo a mesma coisa do governo anterior, porém com mais diplomacia", critica Daoud.

Para o especialista, além da combinação de fatores que pressionam o câmbio, a intenção do governo é incentivar as importações, assim o brasileiro que perdeu o poder de compra com a inflação e o desemprego voltaria a consumir.

Ao mesmo tempo, as conspirações internacionais parecem favorecer a trajetória de queda. "As taxas de juros não serão elevadas nos Estados Unidos, porque esse foi o veneno que gerou a crise, excesso de dinheiro e liquidez", diz Daoud. Juros baixo nos Estados Unidos, mais atrativo se torna o Brasil para o capital externo. Com isso, mais dólares ingressam na economia brasileira, aumentando a oferta da moeda e forçando uma redução no valor de negociação. (MC)

"O governo Michel Temer está fazendo a mesma coisa do governo anterior, porém com mais diplomacia"  Miguel Daoud, analista da consultoria Global Financial  

(Marinella Castro - Estado de Minas)

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