16/03/2017

Difícil consenso sobre a reforma

Difícil conseguir um consenso ainda que mínimo sobre as necessárias mudanças no sistema

As 146 emendas apresentadas na Comissão Especial da reforma da Previdência, a maioria feitas por deputados da própria base do governo, e as greves ontem no transporte público, bancos e escolas em quase 20 estados mostram como será difícil conseguir um consenso ainda que mínimo sobre as necessárias mudanças no sistema. E também provam que o governo está perdendo a primeira das batalhas dessa disputa, que é a da comunicação. Já no final do ano passado, algumas peças do governo federal partiram para uma justificativa correta, mas puramente fiscal. "Você sabia que, se não fizermos a reforma da Previdência, em poucos anos ela vai quebrar?", perguntava uma apresentadora ao mostrar a previsão de evolução do rombo na área, de R$ 85 bilhões em 2015 para R$ 140 bilhões em 2016.

Já em março, com a comissão especial formada, o PMDB exagerou ao publicar anúncios alertando para o fim de programas sociais, como Bolsa Família e Fies, caso a proposta de reforma não passe. Enquanto isso, centrais sindicais e os partidos de oposição unificaram os discursos no slogan "Nenhum direito a menos" e passaram a acusar o governo Temer de inimigo das classes trabalhadoras. Do ponto de vista técnico, passaram a questionar até mesmo a veracidade da existência de um déficit bilionário, criativamente juntando algumas contas e expurgando outras. Para usar em palanques em um país polarizado pelo pós-impeachment de Dilma Rousseff, a retórica ganha ressonância.

Cabe agora ao governo aprimorar as explicações e justificativas para a reforma, numa versão mais popular do que o ministro Henrique Meirelles tem feito com os parlamentares. É possível usar a experiência internacional, como a do Chile, apresentada anteontem em Brasília pelo ex-ministro da Fazenda Alberto Arenas. As premissas de mudança naquele país foram não apenas a sustentabilidade financeira, mas também a abrangência da cobertura e a suficiência dos benefícios. Ou seja, o Brasil precisa explicar e mostrar que seu modelo será justo e equilibrado. 

(Panorama Econômico)

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