31/03/2016

Desemprego já passa de 10% em seis Estados

A taxa de desemprego já passa dos dois dígitos em seis Estados brasileiros.

Em São Paulo, motor financeiro do País, a taxa de desocupação alcançou 10,1% no último trimestre de 2015, o pior resultado da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Em 2015, a fila de espera por um emprego ganhou mais 2,635 milhões de pessoas em todo o Brasil. A população desempregada alcançou o patamar recorde de 9,087 milhões no último trimestre do ano, um salto de 40,8% em relação ao mesmo período do ano anterior. Parte da multidão em busca de uma vaga veio dos 600 mil postos extintos, mas a maior pressão foi de indivíduos que estavam fora da força de trabalho e se viram motivados a procurar uma ocupação para complementar a renda familiar, diante da estabilidade perdida pela extinção de mais de um milhão de vagas formais e da redução do poder aquisitivo dos trabalhadores.

"Apesar de ter subido fortemente em 2015, o pior do desemprego ainda não passou porque, no ano passado, a maior parte das demissões foi na indústria. O comércio e os serviços ainda não chegaram no pior momento", avaliou o analista Everton Carneiro, da RC Consultores.

Nem a sazonalidade ajudou a reduzir a taxa de desocupação na reta final de 2015. A taxa de desemprego para o total do País no último trimestre foi de 9,0%, mesmo resultado do trimestre móvel encerrado em novembro e superior ao registrado no terceiro trimestre do ano passado, quando a taxa de desocupação era de 8,9%. Tradicionalmente, a taxa de desemprego recua nos últimos meses do ano em função das contratações de funcionários temporários pelo comércio e pelo setor de serviços.

"A presença do mês de dezembro é um componente muito forte. Há menos dias de procura (por emprego), absorção de (trabalhadores) temporários. A taxa de desocupação tende a ser menor. Não aconteceu este ano", ressaltou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Todos os Estados da Região Sudeste tiveram no último trimestre de 2015 o desempenho mais negativo da pesquisa. "O Sudeste é formado pelos Estados que têm as maiores indústrias, especialmente as automobilísticas", justificou Azeredo.

A indústria demitiu 1,065 milhão de trabalhadores no quarto trimestre de 2015 ante o quarto trimestre de 2014. No Estado de São Paulo, que tem o maior parque industrial do País, a taxa de desemprego média ficou em 9,3% em 2015, ante 7,1% em 2014. "Foi por conta da indústria, que foi quem mais dispensou", disse Azeredo.

Prenúncio. O pesquisador do IBGE lembrou que São Paulo, principalmente a Região Metropolitana, costuma antecipar movimentos que estão para acontecer em outras regiões do País. "Ela costuma anunciai" movimentos (de contratação ou de dispensa de trabalhadores)."

A deterioração no mercado de trabalho é reflexo do cenário de recessão na atividade econômica, segundo o IBGE. "Tudo o que acontece no mercado de trabalho é reflexo do cenário econômico. Quando o mercado se mostra em recessão, há uma redução no contingente de pessoas ocupadas, consequentemente, tem aumento da informalidade e redução no poder de compra da população", diz Azeredo.

O cenário de indefinição política também pesa no desempenho do mercado de trabalho, acrescenta Everton Carneiro. "Fica difícil para um empresário contratar se ele não sabe quem será a equipe econômica ou até mesmo o presidente da República daqui a dois meses", resumiu o analista da RC.

A taxa de desemprego só deve esboçar alguma melhora em 2017, prevê o economista-chefe da Parallaxis Consultoria, Rafael Leão. "Tem espaço para seguir piorando. Há uma certa resiliência no mercado de trabalho, que não é tão dinâmico (quanto a recessão). As empresas têm um custo para demitir e acabam tomando a decisão como uma última alternativa", avaliou Leão. / colaboraram MARIA REGINA SILVA E MÁRIO BRAGA

• Pressão
Maior pressão por emprego é de pessoas que estavam fora do mercado de trabalho e se viram motivadas a procurar ocupação para complementar a renda familiar.Renda cai 2% e tira R$ 4 bilhões da economia.

• A renda média do trabalhador chegou ao fim do ano passado 2% mais magra do que um ano antes, segundo os dados da Pnad Contínua divulgados pelo IBGE. O aumento na oferta de mão de obra encolheu os rendimentos de categorias como a do empregado doméstico, ao mesmo tempo que as demissões na indústria e a perda de vagas com carteira assinada reduziram a média salarial da população ocupada de maneira geral, diz Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.

A reposição salarial aquém da inflação e a menor quantidade de pessoas empregadas levaram também ao encolhimento de 2,4% na massa de salários pagos aos trabalhadores ocupados no quarto trimestre de 2015 ante 2014. "Isso representa R$ 4 bilhões menos circulando na economia, o que deve afetar o comércio em 2016", diz o analista da RC Consultores, Everton Carneiro.

(Daniela Amorim - O Estado de S.Paulo)

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