06/05/2016

Desemprego em alta entra no radar do BC

O aumento do desemprego observado nos últimos meses começa a ter impacto na inflação.

Ontem, o Banco Central destacou, pela primeira vez, em um de seus documentos mais importantes - a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) -, a piora do mercado de trabalho como um fator determinante na estratégia de levar a inflação para a meta de 4,5% em 2017. Até então, a instituição apenas registrava que postos de trabalho estavam sendo perdidos, sem que isso levasse a equipe do BC a fazer qualquer relação direta com o custo devida.

Mas, com o processo de transição de governo em curso, às vésperas da votação no Senado que deve afastar a presidente Dilma Rousseff do cargo já na próxima semana, a instituição preferiu não dar nenhuma indicação da decisão sobre os juros que será tomada na reunião da diretoria programada para o início de junho. O tom da ata nesse sentido foi neutro.

No documento divulgado ontem, a "distensão do mercado de trabalho", como o BC define a redução do emprego, foi inserida em um dos últimos parágrafos, no qual a instituição faz avaliações sobre o que pode ter impacto nas suas decisões de política monetária - uma delas, a fixação da taxa básica de juros da economia.

O BC passou a registrar o emprego em queda em abril do ano passado, quando informou que viam início de piora. No entanto, ainda não dizia que a situação pesava para sua decisão. Em julho de 2015, começou a registrar uma aceleração desse quadro e, em janeiro de 2016, usou o termo "intensificação" quando falava em desemprego.

Na ata de ontem, em contraponto, a instituição deixou claro que o desequilíbrio fiscal atrapalha a missão de conduzir a inflação ao centro da meta traçada e classificou as contas públicas como expansionistas, ou seja, elas jogam combustível na inflação.

"O desemprego tem aumentado bastante, o que tende a arrefecer a inflação de serviços. Não é uma coisa que ocorre no mês seguinte, começa a afetar seis meses depois. É o que está ocorrendo agora", explicou o professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio de Janeiro e economista da Opus Investimentos, José Márcio Camargo.

O Banco Central, no documento, ainda afirmou que continua a ver, no cenário de baixo crescimento, o consumo perdendo força e em um ritmo inferior ao da produção, além de uma aceleração menor nos preços administrados, a exemplo de tarifas de ônibus e energia. Apesar desse quadro que pode levar a uma inflação menor no futuro, o Banco Central adotou um tom mais neutro no documento.

Mesmo com as projeções apontando para uma desaceleração da inflação, o comando do BC - que sofrerá mudanças com a chegada da nova equipe econômica a ser chefiada por Henrique Meirelles - adotou uma postura cautelosa.

Para analistas, a iminente troca de governo "imobilizou" a ação do BC. A preocupação mais destacada no documento foi com a deterioração da política fiscal e o cenário de dificuldade de recuperação das finanças do governo.

"A queda de juros está contratada, a recessão espantosa a encomendou", avaliou o economista-chefe da corretora Tul-lett Prebon, Fernando Montero. Para ele, a transição afeta o "timing" desse ciclo, porque dificilmente o BC cortará juros em sua primeira reunião em um novo governo. "Ninguém assume o BC cortando os juros na semana seguinte", destacou ele.

Para o ex-diretor do BC e economista-chefe da Confederação Nacional de Comércio (CNC), Carlos Thadeu de Freitas, a transição engessou o Copom. "O BC não deu ainda sinal de queda de juros porque sabe que nessa hora de transição de governo, o melhor é não fazer nada", afirmou Freitas.

(O Estado de S.Paulo)

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