18/04/2017

Desemprego e formação profissional

A questão do desemprego no país passa pelo equacionamento e solução da crise econômica

A questão do desemprego no país passa pelo equacionamento e solução da crise econômica e dos inúmeros problemas enfrentados pela educação brasileira, notadamente pela educação básica, somente agora em condições de estabelecer elos mais fortes com a formação e qualificação profissionais. De fato, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, o PNAD, realizada pelo IBGE, mostrou que, no último trimestre, a taxa de desemprego alcançou a marca dos 13%, o que corresponde a 13 milhões de pessoas, o percentual mais elevado dos últimos anos, e a um aumento de mais 3 milhões de desempregados em relação ao ano anterior.

O nível de ocupação representa cerca de 65 milhões de pessoas “fora da força de trabalho”, o maior desde que foi lançada esta série histórica, em 2012. É sabido que cerca de 95% das empresas brasileiras se enquadram na categoria das micro e pequenas empresas e que são responsáveis pela oferta de mais de 60% dos postos de trabalho. Aumentar a oferta de empregos dependerá de criação de mecanismos que fortaleçam as cadeias produtivas e as cadeias de fornecedores, ambas geradoras de novos postos de trabalho. Para tanto, é importante apoiar o incremento da competitividade, por meio de estímulos à inovação, de formação de quadros técnicos e ainda por ações empreendedoras, bem como fazer crescer a pauta exportadora em todos os setores, na medida em que a inserção dessas empresas no fluxo de comércio internacional é um dos fatores determinantes para a recuperação da nossa economia.

A garantia de fontes de financiamento à pesquisa, e da sua continuidade, é outro fator importante para o aumento dos nossos índices de competitividade e inovação, ainda muito abaixo do esperado para a nossa economia. Por outro lado, um relatório da Confederação Nacional da Indústria assinala ser necessário formar e capacitar, até 2020, cerca de 13 milhões de trabalhadores, das quais 5,1 milhões nos programas de formação e de qualificação de nível médio e outras 7,1 milhões no nível básico. Para dar uma ideia, segundo a CNI, as maiores demandas serão na construção, cerca de 4 milhões, e nas áreas de ambiente e produção, vestuário e calçados, alimentos, tecnologia da informação, energia, petroquímica e química, madeira e móveis, mineração, design e desenvolvimento.

Dessa forma, existem boas expectativas de aumento da oferta de empregos, mas com uma ressalva: será determinante que os postulantes aos postos de trabalho sejam portadores das competências e das habilidades indispensáveis ao exercício profissional, com uma formação que permita a adaptação às mudanças dos perfis, em decorrência das transformações causadas pelos avanços da tecnologia. A nova base curricular comum, recentemente encaminhada pelo Ministério da Educação, poderá se constituir num excelente mecanismo para a construção dessas habilidades, já desde os primeiros anos do ensino fundamental. Ou seja, se, de fato, a economia se recuperar e os prognósticos da CNI se concretizarem, programas de formação e qualificação e profissional terão papel relevante na retomada do desenvolvimento.

Sucede, entretanto, que 41,5% dos jovens de 19 anos não concluíram o ensino médio (dado referente ao ano de 2015) e 2,4 milhões de crianças e adolescentes, entre os 4 e os 17 anos, estão fora da escola. Além disso, enquanto que, por aqui, o percentual de jovens matriculados nos cursos técnicos não chega a 8%, na Alemanha ele ultrapassa os 50%, e na França está na faixa dos 45%. A reforma do ensino médio, recentemente sancionada pelo Presidente da República, tem como um de suas vertentes a opção pelos cursos técnicos, e poderá se transformar em excelente mecanismo para a formação de mão de obra, levando os índices de desemprego a níveis considerados normais num período de crescimento do paí.

(Paulo Alcantara Gomes - O Globo)

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