20/11/2015

Oportunidades

De olho nas oportunidades

Entrevista com Eduardo Correia, da Mercer: 

Diário dos Fundos de Pensão -  O sistema de fundos de pensão lamenta com razão a falta de crescimento. Como identificar oportunidades nesse cenário difícil ? 

Eduardo Correia - Primeiro, tem a própria eventual necessidade de um redesenho ou uma revisão dos planos. As empresas estão buscando isso; e é um momento importante de ver se o plano ainda está adequado para a realidade atual. Ou se está acima ou abaixo do mercado e, principalmente, olhando não só para o mercado, mas olhando para dentro, para cada realidade.  Para a empresa o plano está caro? Ele está atingindo seus objetivos? A empresa está tendo custos com as pessoas certas?  Está alinhado com os objetivos do negócio? Esse primeiro ponto já pode trazer algum resultado prático. 

Além disso é preciso olhar também a questão dos passivos pós emprego. Tantos os planos de previdência como os de saúde e outros benefícios, trazem compromissos para as empresas do ponto de vista de passivos pós emprego, que são refletidos no balanço. A empresa, em qualquer momento, mas nesse momento em especial, pode promover ajustes nesse quesito, que trarão resultados de curto prazo.  Nem sempre são medidas fáceis, mas basicamente formas de eliminar os riscos que existem nos planos. Não estou falando necessariamente em reduzir benefício, mas sim diminuir um pouco esse risco ou compartilhá-lo com os próprios participantes. Às vezes, esse compartilhamento de risco já pode trazer resultados positivos, mesmo sem reduzi-los. 

Um terceiro ponto que levanto é na questão sobre custo de gestão, de administração do plano. Obviamente para operacionalizar isso, quer seja internamente ou com terceiros, você tem um custo associado. Muitas empresas, em muitos casos, assumem estes custos totalmente, ou na maior parte. Novamente estou falando na discussão de compartilhamento de custos e tal,  então  fazer isso de uma forma melhor, mais eficiente, com uma melhor divisão de custos com os participantes; e também existe a própria eventual  renegociação com seus terceiros. Porque, para eles, também é importante continuar tendo você como parceiro. Talvez todos tenham que se ajudar nisso para ver se há formas mais eficientes, custos um pouco menores para manter a operação como, por exemplo, no uso dos canais de comunicação. Sugerimos usar mais os canais de internet, mídias sociais, comunicação eletrônica, usar menos papel e melhorar a forma de comunicação. Enfim, formas de diminuir alguns custos que talvez não tragam tantos benefícios, mas que custam caro. Por exemplo, para enviar um documento para milhares de empregados, um dos meus clientes afirmou que gastaria 120 mil reais só com os correios. É algo difícil de dizer se tem valor você gastar esse dinheiro todo pois, provavelmente, muitas pessoas não vão ler o paper e outra parte nem dará o valor necessário para aquilo. São exemplos de custos que a gente pode, fazendo uma análise melhor dos custos que o plano tem, eliminar e reduzir. 

Diário - Quais são as principais características que um gestor de fundos de pensão eficiente deve ter ? Com o que ele precisa se preocupar no dia-a-dia? 

Eduardo - Bom, basicamente você tem a gestão dos investimentos. Normalmente os planos de Fundos de Pensão ou PGBL são administrados por Asset Management e você tem que ter bons contratos, monitorar estas performances, promover trocas desses Assets enfim, acompanhar. Fazer um bom acompanhamento desses investimentos, promover reajustes quando for necessário, negociar custos e taxas. Os planos de uma forma geral precisam – e não é necessário gastar uma montanha de dinheiro para isso – gerenciar todos os riscos envolvidos. 

Além dos riscos de investimentos, há também os  operacionais, que ocorrem internamente ou com a operação de terceiros. É preciso ter certeza que os processos estão corretos para evitar problemas futuros. E, o terceiro aspecto, é o de comunicação com as pessoas. Porque o pior para uma empresa, para um programa de benefícios qualquer que seja ele, é  o fato das pessoas não valorizarem esse benefício. Às vezes a empresa gasta uma fortuna para manter o plano e as pessoas não sabem, não entendem, não valorizam, não conseguem reconhecer de fato que é algo positivo que a empresa está fazendo. Esse é o pior investimento, pois não há retorno nenhum. Muitas vezes as empresas pecam neste aspecto. Gastam uma fortuna na implantação, mas um tempo depois ele fica um pouco largado e sem este acompanhamento permanente. 

Às vezes, e é interessante contar, pois eu já tive essa experiência com uma empresa, algumas oferecem um benefício relativamente baixo, até pouco competitivo, mas por serem bem comunicados geram um impacto muito mais positivo, do que um benefício super bom, mas que não é comunicado adequadamente. É preciso que a pessoa lembre no dia a dia que possui um plano, pois é uma ferramenta de retenção e também do ponto de vista de imagem, pois a pessoa está satisfeita com o nível de remuneração e de cuidado que a empresa tem com ela. 

Diário - Se você pudesse resolver alguma coisa que ainda está “engasgada” para o bom desenvolvimento do sistema, o que seu ver  seria isso ? Qual é a “pedra no meio do caminho” do sistema? 

Eduardo - Tem algumas questões que complicam um pouco mas vou chamar a atenção de duas questões,  em particular. Aqui, partindo do pressuposto que todos entendem o valor de poupar para a aposentadoria para um momento futuro. Acho que são duas coisas que atrapalham o dia a dia. Uma é o fato das pessoas não entenderem tanto de investimentos. Por isso acho que algumas coisas deveriam ser mais simplificadas, inclusive essa questão tributária que gera às vezes stress e as pessoas não entendem do assunto. Acho que esse é um aspecto interessante de se repensar. 

E o outro, ainda dentro da questão fiscal, creio que poderiam ser criados incentivos maiores para as pessoas fazerem essa poupança para frente. Principalmente para quem faz a declaração simplificada, e não tem hoje vantagens fiscais. São coisas que às vezes atrapalham e de repente não incentivam a adesão. Isso olhando do ponto de vista daqui para frente, creio que estas mudanças iriam facilitar a entrada das pessoas. (Diário dos Fundos de Pensão)

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