24/06/2016

Crise estimula saques nos planos de previdência privada

No primeiro trimestre do ano, resgates cresceram 22% na comparação com mesmo período de 2015

Resgate da previdência não é recomendado por especialistas.A crise econômica está obrigando quem se programou para ter uma aposentadoria mais tranquila a repensar os planos. A combinação de inflação alta, avanço do desemprego, escalada do endividamento e renda achatada está provocando um aumento dos saques nos planos de previdência privada. No primeiro trimestre deste ano, em comparação com igual período de 2015, os resgates cresceram 22% de acordo com balanço da Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi).

Nos três primeiros meses de 2015 os saques somaram R$ 10,9 bilhões, enquanto em igual intervalo deste ano subiram para R$ 13,3 bilhões, totalizando uma diferença de R$ 2,4 bilhões. Especialistas em educação financeira não aconselham o resgate do plano de previdência privada e sugerem um reordenamento nas contas antes de optar pelo saque. Além da recessão, o primeiro trimestre é um período apertado de contas para pagar.

O presidente da Fenaprevi, Edson Franco, diz que o setor de previdência privada não está imune à crise, mas que é preciso ter cautela para não desperdiçar a oportunidade de uma vida estável no futuro. Ele observa que, apesar do aumento nos saques em relação ao ano passado, a captação líquida segue positiva. “Isso mostra o compromisso do participante com a constituição de reservas de longo prazo”, observa. A captação líquida (diferença entre depósitos e resgates) no acumulado de janeiro a março foi positiva em R$ 8,1 bilhões. No ano passado o resultado foi melhor, ficando em R$ 10,9 bilhões. A arrecadação cresceu no período analisado entre os anos de 2015 e 2016, passando de R$ 20,3 bilhões para R$ 21,5 bilhões.

A Brasilprev - uma das maiores empresas de previdência privada do Brasil - também está assistindo a uma fuga de recursos nos planos, mas num patamar abaixo da tendência do mercado. A companhia atende, atualmente, a uma carteira de 1,91 milhão de clientes e tem R$ 154,6 bilhões em ativos sob sua gestão. Em abril, enquanto o mercado teve um índice de resgate de 10,3%, na Brasilprev o índice foi de 9,2%.

Embora ainda não haja números consolidados, os saques nos fundos de pensão patrocinados (aqueles em que empregados e empresas fazem aportes) também cresceram. O principal motivo, de acordo com a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), foi o crescimento do número de profissionais demitidos.

REFORMA

Num momento em que o governo interino do presidente Michel Temer discute os termos de uma reforma da previdência, resgatar a previdência privada é um movimento na contramão da cautela que se deveria ter. O plano do governo em exercício é estabelecer idade mínima de 65 anos para a aposentadoria, além de desindexar a correção dos benefícios do salário mínimo. A reforma é uma tentativa de conter o déficit na Previdência Social, estimado para este ano em R$ 167 bilhões. Diante do cenário incerto, manter o plano de previdência privado é dispor de um colchão financeiro no futuro.

Para quem, ao invés de resgatar os recursos do plano, está pensando em contratar uma previdência privada, a orientação dos especialistas é ter cuidado na escolha para evitar que os rendimentos sejam corroídos pelas altas taxas. O ideal é que a chamada taxa de carregamento de entrada (cobrada quando o cliente aplica recursos) seja inferior a 1%. Isso porque se o investidor aplicar R$ 100 para uma taxa de 1%, o valor guardado ficará em R$ 99. Já a taxa de saída é cobrada para inibir o movimento de saques que acontece num período de recessão como agora ou mesmo para desestimular resgates fora de momentos de crise. 

(JC Online)

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