14/01/2016

BC tem sinal verde para subir juro

Para recuperar credibilidade, governo quer garantir autonomia do BC no controle da inflação

Primeira elevação da taxa, hoje a 14,25% ao ano, já deve ocorrer semana que vem, na reunião do Copom. A presidente Dilma Rousseff, em sintonia com o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, deu sinal verde para o Banco Central (BC) elevar os juros, hoje em 14,25% ao ano, na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dia 20. O aval contraria o PT, que pressiona o governo por medidas que estimulem o crescimento. As prioridades do Palácio do Planalto, porém, são derrubar a inflação e resgatar a credibilidade. -BRASÍLIA- Na tentativa de estabilizar a economia, a ordem no governo é deixar o Banco Central fazer o que for preciso para controlar a inflação, que explodiu após sucessivos erros da política econômica. A diretriz do Palácio do Planalto, em sintonia fina com o Ministério da Fazenda, é dar previsibilidade e confiança aos agentes econômicos para recuperar a credibilidade. Por isso, na semana que vem, o Comitê de Política Monetária (Copom) deve começar a aumentar os juros básicos, que estão em 14,25% ao ano. O aval para um novo ciclo de aperto vem em um momento em que o PT pede mais medidas pró-crescimento e pressiona por uma política monetária menos austera.

A percepção de integrantes da equipe econômica é que, se nada for feito, o país pode entrar num "limbo inflacionário", ou seja, a inflação cairia dos atuais 10,67% para algo em torno de 8% ou 7% e não cederia mais. Para fugir dessa armadilha, seria preciso uma dose maior de remédio, que teria gosto menos amargo que o percebido em outros ciclos de aperto monetário. Dentro do BC, cresce a ideia que mais juros não significam mais desemprego, como antigamente. A avaliação é que a economia está tão debilitada que taxas maiores não afetariam o consumo.

Atuariam somente nas expectativas de empresários, economistas e consumidores.
Os economistas tentam enxergar toda essa relação entre inflação e crescimento num gráfico chamado "Curva de Philips". A crença dentro da equipe econômica é que a curva brasileira virou de ponta-cabeça.

A gente já viu isso antes. Antes do Plano Real, a gente convivia com inflação muito alta e recessão - lembrou uma alta fonte da equipe econômica, que defende juros mais altos o mais rapidamente possível. - O nível de juros está num patamar que deixará a gente no limbo. O céu seria ter uma alta de juros que controlasse a inflação. O inferno seria ter corte e chegarmos a uma hiperinflação de 15% a 20%. Ficar no limbo é o maior risco que a gente corre se nada for feito. Não queremos fazer isso.

JUROS DEVEM SUBIR 0,5 PONTO
A provável alta de juros será a primeira medida do BC após o presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, atribuir explicitamente a alta de preços a decisões da equipe econômica, em carta aberta enviada na sexta-feira ao ministro da Fazenda para justificar o descumprimento da meta de inflação. No documento, ele ataca principalmente os erros na política fiscal, como o envio de um orçamento com previsão de déficit, em julho. Em linguagem técnica, porém contundente, Tombini explicou como a piora da percepção sobre as contas públicas contribuiu para a interrupção do processo de ancoragem de expectativas, "em curso desde o fim de 2014".
Segundo interlocutores de Dilma Rousseff, a presidente está convencida de que não é possível tergiversar no controle dos preços, que prejudica, principalmente, os mais pobres, com efeito drástico sobre sua popularidade. Ela e Tombini têm conversado regularmente sobre o assunto.

Ela sabe que inflação é mortal - concluiu uma fonte palaciana, que aposta que a decisão do Copom não será unânime.
A ideia dos técnicos que defendem a alta de juros é que haveria uma queda da taxa básica assim que a expectativa para a inflação do ano que vem alcançasse a meta de 4,5%. Esse processo poderia ser mais rápido do que num momento em que a curva de Philips estivesse em condições normais.

Na contramão, Alexandre Schwartsman, exdiretor do BC e um crítico ácido da diretoria atual, prevê impacto na atividade, mas que isso seria necessário para evitar um desastre maior. E lembra que o Copom tem adiado por dois anos o compromisso de cumprir a meta. A cada toalha jogada, economistas, empresários e as famílias arrastam a inflação atual para aquela que terá no futuro. Isso cria uma inércia inflacionária difícil de quebrar.
BC errou demais. Se não subir os juros agora, a previsão de inflação deste ano vai para 7%a 8%. A inflação não vai ficar em um limbo, mas desancorada - previu Schwartsman.

André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual e número um no ranking de analistas que acertam previsões sobre o Copom, espera que o BC aumente os juros em 0,5 ponto percentual na próxima reunião. Sua certeza aumentou depois que o PT passou a pressionar para que o BC não apertasse a política monetária. Em sua avaliação, quando o partido se intrometeu na conversa fez o BC ter de subir os juros para mostrar autonomia.
Quando o PT faz isso, ele praticamente obriga o BC a subir juros porque sobrou para o Tombini ser a imagem da visão ortodoxa no governo - analisa o economista ao lembrar que Nelson Barbosa ainda é visto como um dos autores das medidas que provocaram a atual crise.

Justamente por isso, na Fazenda, a ordem é não falar sobre o trabalho do BC e deixar claro que a autoridade monetária tem autonomia para definir a taxa de juros. Para os interlocutores da pasta, o principal trabalho do governo agora é dar um clima de normalidade à área econômica e evitar quedas de braço. Para isso, avaliam, o melhor é que cada um cuide de sua área de modo que a Fazenda se atenha à política fiscal, já que o rombo das contas públicas contaminou totalmente o controle da inflação em 2015.
O governo precisa de um choque de normalidade - disse um interlocutor da Fazenda.

EM CINCO FRASES, AS PISTAS DE QUE O BANCO CENTRAL ESTÁ PRONTO PARA NOVO CICLO DE ALTA
"Eu estou dizendo que nós queremos nos aproximar da banda de cima da meta o mais rápido possível este ano"
Dilma Rousseff Em 7 de janeiro, presidente diz que governo quer inflação abaixo de 6,5%, teto da meta. BC mira os 4,5% até 2017
"O Banco Central tem toda a autonomia para administrar a política monetária, especialmente a taxa de juros, na maneira adequada para controlar a inflação"
Nelson Barbosa Ministro da Fazenda, em 6 de janeiro, sobre a autonomia do BC
"O Banco Central adotará as medidas necessárias para assegurar o cumprimento dos objetivos do regime de metas para a inflação em 2016"
Alexandre Tombini Em 15 de dezembro, o presidente do BC classificou o cenário de recessão e preços altos como "desafiador"
"Vamos fazer o nosso dever de casa. Temos determinação, autonomia e instrumentos para cumprir essa estratégia"
Altamir Lopes Diretor de Política Econômica do BC, em 23 de dezembro. Ele comparou inflação a um imposto "que ninguém deve pagar"
"Um ajuste monetário eficiente vai contribuir para a retomada da economia. Hoje, o controle efetivo da inflação é condição para a recuperação do crescimento sustentável"
Tony Volpon No dia 3 de dezembro, diretor do BC defende ajuste nos juros.

(GABRIELA VALENTE e MARTHA BECK - O Globo)
 

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