11/03/2016

BC indica queda de juros no 2º semestre

O Banco Central (BC) já dá sinais de que a recessão econômica e o aumento do desemprego favorecerão a queda da taxa básica de juros (Selic) no 2º semestre

A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada ontem, apontou ainda que a permanência das preocupações vindas do cenário externo também implicará queda Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que aumentará as chances de que os juros sejam reduzidos.

Apesar de sinalizar a queda dos juros, a autoridade monetária afirmou que as projeções para a inflação para este ano e para 2017 aumentaram em relação ao estimado na reunião anterior e permanecem acima da meta, de 4,5%. As estimativas só serão divulgadas no Relatório Trimestral de Inflação, que será apresentado no fim do mês.

O BC, comandado por Alexandre Tombini, ainda alertou que o governo não deve abandonar o ajuste fiscal nem deixar de fazer as reformas necessárias para reequilibrar as contas públicas, mesmo diante de uma crise política profunda. "Ressalta-se a importância de se preservar na promoção de reformas estruturais de forma a assegurar a consolidação fiscal em prazos mais longos", informou a autoridade monetária no documento.

Para o BC, a persistência da alta de preços não decorre apenas da alta do dólar ou das tarifas públicas. "O Copom considera que o ainda elevado patamar da inflação é reflexo dos processos de ajustes de preços relativos ocorridos em 2015, bem como da recomposição de receitas tributárias observada nos níveis federal e estadual, no início deste ano, que fazem com que a inflação mostre resistência", destacou a ata.

O economista Antônio Corrêa de Lacerda, sócio-diretor da MacroSector Consultores, avaliou que o Copom, ao mesmo tempo em que está preocupado a inflação, abriu as portas para uma redução dos juros na segunda metade do ano, ao apontar que a recessão no país e a crise internacional terão um efeito significativo sobre o processo de queda nos preços ao longo do ano.

Segundo Lacerda, a estratégia do BC é correta, já que nas demais economias os juros reais estão negativos ou próximos de zero. Nas contas dele, a inflação recuará para um patamar entre 7% e 8% em 2016, mas taxa real ainda será a maior do mundo. "Se não reduzirmos a Selic, nossa política monetária ficará ainda mais restritiva. Isso trará problemas ainda maiores para a economia brasileira", disse.

Para o economista José Luis Oreiro, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a inflação começou a dar sinais de que entrará em trajetória de declínio, após o resultado do IPCA de fevereiro cravar alta de 0,9%. Nos últimos 12 meses, a carestia teve variação de 10,36%. Ele comentou que a expectativa do BC é de que o aumento do custo de vida deva cair para 7,5%, o que aumentará os juros reais. "A queda de juros a partir a partir do 2º semestre faz sentido nessas condições", comentou.

Oreiro observou que esse resultado ainda ficaria acima do teto da meta, de 6,5%. Segundo ele, o Conselho Monetário Nacional (CMN) deveria redefinir o objetivo a ser perseguido para 2016, 2017 e 2018. Ele lembrou que em 2003 o colegiado tomou decisão semelhante, após a inflação do ano anterior ter forte alta. "As metas até 2005 eram irreais e foram ajustadas. Agora, isso também poderia ocorrer, e o objetivo passaria a ser 5,5%, com o mesmo intervalo de tolerância", sugeriu.

Tarifaço menor

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) projetou para o conjunto de preços administrados aumento de 5,9% em 2016. Na ata de janeiro, a estimativa para a elevação das tarifas públicas era de 6,3%. O cálculo levou em consideração a estimativa de reajuste médio de 9,9% nas passagens de ônibus urbano e de redução de 3,5% nos preços da energia elétrica, consideradas as alterações nas bandeiras tarifárias. Para 2017, a autoridade monetária manteve a expectativa de aumento de 5% dos preços administrados. 

(ANTONIO TEMÓTEO - Correio Braziliense)

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