24/05/2016

Alimentos e medicamentos puxam inflação

O IPCA-15, que foi puxada pelo aumento de alimentos e remédios, veio acima do esperado pelo mercado.

Em 12 meses até maio, a inflação acumula alta de 9,62%, acima dos 9,34% até abril O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), uma espécie de prévia da inflação oficial, foi de 0,86% em maio. É a maior taxa para o mês desde 1996, quando ficara em 1,32%. Mais uma vez, o índice veio acima das previsões do mercado, que ficaram entre 0,65% e 0,76%. As maiores pressões foram exercidas por remédios e alimentos. A taxa acelerou tanto em relação a abril (0,51%) quanto há um ano (0,60%). E, considerando os últimos 12 meses, o índice voltou a ficar mais próximo dos dois dígitos - foi para 9,62%, mais do que os 9,34% registrados nos 12 meses terminados em abril. No ano, a taxa já está em 4,21% e, segundo economistas, mais distante da possibilidade de fechar 2016 ao redor dos 7% - projeção do último Boletim Focus do Banco Central, pesquisa com mais de cem instituições financeiras.

- É claro que a inflação deste ano não vai repetir o desempenho do ano passado, mas nos primeiros meses do ano havia um otimismo forte do mercado em relação a desaceleração da economia frear os preços. Mas, se houver uma melhora do cenário e da confiança, é bem provável que as empresas tentem recuperar um pouco a margem perdida no último ano, quando não puderam repassar porque não havia demanda - afirma Luiz Roberto Cunha, professor da PUC-Rio.

"COMMODITIES" AGRÍCOLAS EM ALTA

O economista também vê risco de alta de commodities agrícolas como soja e milho, que já teve quebra de safra em razão de fatores climáticos, pressionar o índice. Assim como uma mudança na metodologia de captação da inflação dos serviços domésticos, com o fim da Pesquisa Mensal de Emprego em fevereiro, que servia como base, já jogou para cima a taxa desse item (que pulou de 0,65% em fevereiro para 0,87% em maio) Em maio, os preços dos alimentos aumentaram, em média 1,03%, e o dos remédios subiram 6,5%. Juntos, foram responsáveis por mais da metade da taxa do mês (56%). O aumento dos medicamentos já era esperado, mas o dos alimentos veio acima das expectativas, diz Cunha: - Todos os meses temos sido surpreendidos por algumas altas pontuais acima do esperado, que têm feito as taxas ficarem maiores do que o projetado.

O economista André Braz, da Fundação Getulio Vargas, surpreendeu-se com o impacto do fim do Programa de Incentivo à Redução do Consumo de Água, na capital Paulista, em maio. Com o fim da concessão de descontos para quem economizava água, as contas dos paulistas aumentaram, pressionando o índice além do esperado, explica Braz. Com isso, tanto ele quanto o economista Cunha acreditam que o resultado fechado do mês, o IPCA, deve ficar mais próximo dos 0,80%, ante os atuais 0,75% estimados pelo monitor da inflação da FGV e os 0,70% esperados pelo economista da PUC-Rio.

No grupo de alimentos, a pressão veio dos in natura, cujos preços estão resistindo mais a cair. Prova disso é que a maior alta deste grupo, de 6,68%, veio de raízes, tubérculos e legumes, com destaque para a batata inglesa, que encareceu 29,65%. Os alimentos consumidos em casa, com alta de 1,09%, subiram mais do que as refeições fora de casa, alta de 0,93%. Mas os alimentos industrializados, mais difíceis de serem substituídos, vêm desacelerando.

Os remédios tiveram alta expressiva pelo segundo mês consecutivo (em abril haviam encarecido 2,64%) e acumulam alta de 9,31% nestes dois meses. O aumento é reflexo do reajuste de até 12,5%, autorizado pelo governo federal, em vigor desde o dia 1º de abril. No mês, o item remédios foi responsável por praticamente um quarto da taxa geral, com a maior contribuição individual.

A taxa de água e esgoto, que teve alta de 9,03% em maio, puxada pelo aumento em São Paulo, de 35,93%, refletindo o fim do programa de redução de consumo. Também houve reajustes em Fortaleza, Curitiba, Recife e Belo Horizonte. O grupo transportes foi o único dos nove pesquisados a registrar deflação no mês, de 0,30%, resultado da queda de 8,59% nas passagens aéreas. O etanol ficou 8,54% mais barato.

MAIS LONGE DO TETO DA META

Para os próximos meses, até setembro, a tendência, explica Braz, é que as taxas desacelerem, tendo em vista que é um período de baixa de preços dos in natura e de poucos reajustes de preços administrados (como tarifas de ônibus, energia, água, gás e outros combustíveis). Mesmo assim, há riscos de o resultado do ano ficar acima dos 7%: - Entre junho e setembro, o índice costuma recuar. No inverno, aumenta a produtividade dos alimentos in natura, e logo caem os preços.

Houve alta na taxa na passagem de mês em todas as 11 regiões metropolitanas , sendo que a mais expressiva foi em Salvador, onde o índice saltou de 0,08% em abril para 1,13% em maio.

Fortaleza registrou a maior taxa, de 1,19%. De acordo com o IBGE, a taxa de Fortaleza foi pressionada por altas na taxa de esgoto e de energia elétrica. Os menores índices foram os de Brasília (0,55%) e de Goiânia (0,58%). A taxa no Rio também avançou forte. Saiu de 0,30% para 0,90%, acumulando 9,25% no ano.

A meta fixada para a inflação brasileira no ano é de 4,5%, podendo oscilar entre 2,5% e 6,5%. Se a taxa fechar perto de 7% em 2016, será o segundo ano seguido que a inflação do país fica acima do teto da meta. 

(O Globo-21.05)

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