23/05/2017

Meirelles admite que reforma deve atrasar

O ministro da Fazenda participou de conversas para tentar acalmar os investidores

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, disse ontem a investidores internacionais reunidos em teleconferência pelo Banco JP Morgan que acredita na continuidade do presidente Michel Temer no cargo, mas ponderou que as alternativas que se comentam nos bastidores políticos como possíveis sucessores do presidente são todas favoráveis à reforma da Previdência.

Segundo fontes ouvidas pelo Valor, a mensagem central de Meirelles nas duas vezes em que conversou com investidores nessa segunda-feira (de tarde ele falou com brasileiros em evento promovido pela corretora Icap), foi de que a reforma previdenciária deve sofrer atraso de algumas semanas ou meses por conta da crise, mas que há convencimento e consenso da classe política sobre a necessidade de aprovação da medida, prioridade do atual comando da economia. "Ele contou que já havia um consenso político grande com as reformas, que a Previdência já estava com seu conteúdo praticamente pacificado", contou uma fonte.

O ministro avaliou como um sinal positivo o anúncio do senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) de que deverá ler o relatório da reforma trabalhista nesta terça na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. A estratégia de falar com grandes grupos de investidores é uma tentativa de acalmar os mercados, que, desde que estourou o caso da gravação de conversa do presidente com o empresário Joesley Batista, vivem um grande nervosismo.

A esse movimento de conversar com analistas e investidores, a Fazenda tem em parceria com o Banco Central acompanhado os mercados de juros e câmbio para garantir a liquidez e o funcionamento deles. Nos dois discursos de ontem, Meirelles ressaltou que é preciso garantir que a política econômica seja blindada da crise política, para evitar maiores danos em uma economia que já vivencia uma recuperação, ainda que lenta. Ele citou exemplos em que a incerteza política prejudicou fortemente a economia, como em 2002. Naquele ano, período pré-eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, o dólar disparou e, segundo o ministro, o motivo foi a incerteza que havia sobre o rumo da política econômica.

Para comparar com aquele episódio, o ministro destacou a grave crise gerada no escândalo do "Mensalão", em 2005, quando a convicção de que não haveria mudança na politica econômica mitigou o impacto no nível de atividade e permitiu ao Brasil crescer fortemente em 2006. Meirelles ressaltou que a agenda econômica no Legislativo não pode parar com a crise.

Nesse sentido, destacou que tem se reunido com integrantes do Congresso, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e buscado dar andamento a medidas econômicas que lá estão. Atualmente, além da reforma trabalhista no Senado, dois temas estão sendo negociados na Câmara: a MP que cria o programa de parcelamento de dívidas tributárias (chamado de novo Refis) e a convalidação dos benefícios concedidos pelos Estados, que podem ser votados nesta semana, a depender da evolução das negociações. Segundo uma fonte que acompanhou as conversas, houve grande demanda por ouvir o ministro, especialmente dos estrangeiros.

(Fabio Graner - Valor Online)

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